Lisboa, junho de 2018
Na terça-feira passada falámos de alguns cuidados a ter, mas sempre com o objetivo de que os bebés não deixem de ir à praia. Agora que o tempo está melhor, o assunto, felizmente, torna-se mais pertinente.
Falemos de um outro assunto: -a ÁGUA. Mas… com tanta água ali, porque é que os pais a hão de levar de casa? É intrigante, não é? O problema é esse. Aquela é salgada e os ventos ficam também salgados, mais o calor, a areia, tudo isso faz sede, mesmo que não esteja um dia de fornalha. Chamem a atenção dos vossos pais antes de sair de casa para levarem o biberão de água, com água da torneira ou água mineral, com o cuidado de saber se nessa praia a água é potável. Quanto a esta questão, poderá haver diferenças de opinião entre os vossos pais e os pais do bebé do toldo ao lado. “Ao meu nunca dei!” “O pediatra do meu filho manda dar água…” Cada cabeça, sua sentença, e depois metem-se os avós ao barulho… enfim, uma salada-russa. Ponham ordem na casa e pronto. Assumam-se cientistas e expliquem que os bebés precisam de água e que, em condições normais, a quantidade de líquidos que bebem chega para equilibrar o que perdem. Se estas perdas estiverem aumentadas (calor, febre, diarreia, respiração acelerada por febre ou por infeções respiratórias, vómitos, etc.) há que aumentar também a quantidade de líquidos. Por outro lado, quanto mais pequenos, mais sensíveis são a alterações deste equilíbrio e mais rapidamente se desidratam, até porque, proporcionalmente, têm mais água do que os adultos. Os vossos pais procederão ajuizadamente se vos oferecerem água nos intervalos das refeições. Vocês decidirão se querem ou não…
E a água do mar? Poderão vocês TOMAR BANHO? Mesmo com alguma poluição, se os vossos pais escolherem uma praia de bandeira azul, as probabilidades de a água ser limpa são maiores.
Segundo aspeto, a temperatura: há praias de água mais fria e praias de água mais quente. Quanto a vocês, uns detestam, outros adoram, uns choram quando entram, outros choram porque têm de sair, numa “banhomania” até os lábios ficarem roxos, ou melhor, até ficarem todos roxos, seja qual for a temperatura da água.
Digam aos vossos pais que esses banhos não podem ser muito prolongados e que vocês têm de ser enxutos logo que saírem da água, porque a vossa capacidade de secar ao ar é muito limitada. Por outro lado, se tiverem frio, chorem e gritem. Se eles continuarem a insistir e a molharem-vos, protestem, façam-lhes xixi para cima, escandalizem a audiência, digam ao bando de basbaques que se junta para ver o banho do bebé que ESTE bebé não está a gostar mesmo nada do banho. Podem ter frio ou podem ser as ondas que vos assustam. Não é por eles insistirem (leia-se violentarem) que vocês ficam a gostar mais da água. Não há coisa mais revoltante que ver miúdos a chorar convulsivamente ao colo de pais que os mergulham à força. Dá vontade de inverter a situação.
Outro problema de que os vossos pais se queixam frequentemente é que vocês COMEM AREIA. Isso faz-se? Faz-se, pois claro! A areia em si não faz mal a ninguém, e se comerem, paciência, deitá-la-ão fora na primeira ocasião… o único problema é se, misturados com a areia, vão detritos, lixos e outras coisas indesejáveis ou perigosas, como é o caso das beatas – a ingestão de uma beata de cigarro pode provocar-vos a morte por intoxicação. Se virem alguém a fazer isso, façam sinal aos vossos pais para que a pessoa que está a enterrar o resto do cigarro não o faça. As praias vigiadas (que devem ser as únicas para onde os vossos pais vos devem levar) são limpas quando começa a época balnear e, na maior parte delas, há um processo de limpeza diária, nomeadamente com tratores que peneiram a areia e a alisam. Todavia, mesmo com a crescente “civilização” das pessoas e com o grande número de caixotes do lixo que há nas praias vigiadas, ainda existe gente que deita o lixo na areia com o maior desplante. Façam um estudo do ambiente que vos rodeia quando os pais vos puserem na areia e certifiquem-se que há uma “área protegida” à vossa volta, sem latas de atum, alcatrão, conchas pontiagudas, cigarros, seringas, preservativos ou outros detritos.
Alguns de vós têm medo (quase nojo) da areia, chorando, infelicíssimos, quando têm de a tocar com os pés. Pois é, será difícil ir a uma praia que não tenha areia. Aqui, meus amigos, a razão está do lado DELES. Peçam para os vossos pais não vos forçarem, mas o melhor é habituarem-se.
No que respeita às REFEIÇÕES, já viram que eles, por um lado, contentam-se com qualquer coisa, comida a desoras, etc., e por vezes querem obrigar-vos a ter o mesmo apetite todos os dias, a mesma quantidade, o mesmo inefável puré de legumes com a carne ou o peixe triturado, mais a papa de fruta, mais não sei o quê… Ensinem aos vossos pais um verbo muito bonito: “SIM-PLI-FI-CAR”. Defendam a qualidade e o bom estado de conservação dos produtos que vos dão, mas exijam respeito pelas férias, pelas variações do vosso apetite e pela paciência dos vizinhos de praia, que dão em doidos com cenas de meninos aos berros a não quererem comer e mães aos berros porque querem dar de comer aos tais meninos que não querem comer.
Se são ainda amamentados, a vossa mãe que não se coíba de vos dar de mamar na praia. Não é o que os estrangeiros fazem? E nós somos menos do que eles?
Pois é, caros bebés. O espaço está a chegar ao fim. Ainda haveria algumas coisas para dizer, mas ficará para uma próxima oportunidade. Aproveitem bem o tempo porque, como dizia o outro, cada ano que passa é um ano que passou. Divirtam-se, não macem demasiado os pais, deixem-nos aproveitar este período tão curto de descanso. Proporcionem um ambiente agradável de verdadeiras férias e aproveitem-nas para mostrar-lhes, agora que eles têm mais tempo e disponibilidade para vocês, todas as gracinhas que aprenderam e que eles nem imaginam que vocês fazem, toda a vossa maneira de ser, os espertalhões que são. Não se esqueçam, bebés, que têm de aproveitar os pais antes que eles próprios cresçam, antes que os dias passem (e passam mais rapidamente do que julgam) e sejam vocês a ir para a praia (se calhar, para a mesma praia) com um filho de menos de um ano de idade. Aproveitem agora antes que o peso das responsabilidades vos caia em cima.
Boas férias, bebés…
Pediatra
Escreve à terça-feira