Nos jogos de Portugal na Rússia houve três momentos fatais. O primeiro golo da Espanha foi precedido de um golpe de karaté de Diego Costa sobre Pepe. O golo do empate do Irão resultou de um penálti inexistente. E o golo da vitória do Uruguai foi possível porque Patrício deu um passo à direita para ver Cavani e este rematou para a sua esquerda. Se não fosse esse passo, o guarda- -redes português teria defendido a bola, que passou a dois palmos da sua luva. Mas é este o sortilégio do futebol. Quem pensaria que De Gea desse aquele frango inacreditável que nos permitiu sonhar com a vitória sobre a Espanha?
O futebol é imprevisibilidade e espetáculo. No fim do jogo com o Uruguai, Fernando Santos disse qualquer coisa como: “O resultado foi injusto. Jogámos melhor. Mas não me interessa jogar bem, eu quero é ganhar!” Também os comentadores colocam a alternativa entre “jogar bem e perder” ou “jogar mal e ganhar”.
Ora, a questão não pode ser posta assim. O objetivo de uma equipa tem de ser “jogar bem e ganhar”. O futebol é um espetáculo, um espetáculo muito bem pago pelos espetadores e pelas televisões, e as equipas têm obrigação de querer jogar bem. De fazer golos. O futebol italiano depreciou- -se porque se tornou muito defensivo, muito “resultadista”, e deixou de funcionar como espetáculo. Inversamente, o futebol inglês valorizou-se porque as equipas jogam para marcar, não se importam de sofrer três golos se marcarem quatro.
Dizer “eu não quero jogar bem, o que eu quero é ganhar” é uma infantilidade. Os miúdos é que dizem isso. Mas um treinador não pode dizê-lo. E os comentadores devem ter a coragem de dizer, sempre que se justificar: “A seleção ganhou mas praticou um futebol paupérrimo.”
E foi quase isso que aconteceu neste Mundial (e já tinha acontecido no Europeu). Portugal pratica um futebol aborrecido, mastigado, sem chama. Não procura jogar: antes de tudo, preocupa-se em não deixar jogar o adversário. E por isso os espetáculos que a equipa proporciona são fracos.
Depois, em Portugal há um endeusamento exagerado de Ronaldo. A bola chega a Ronaldo e os comentadores excitam-se, mesmo que a bola esteja a 40 metros da baliza. É claro que isso não é saudável para os outros jogadores, que se sentem menorizados. E o próprio Ronaldo acaba por ser vítima dessa idolatria. Marcou três golos no primeiro jogo (um penálti, um livre e um frango) e já era o Rei da Rússia. Marcou aos 5 minutos contra Marrocos e já ia ser o melhor marcador do Mundial. Ora, daí para a frente não existiu. Não jogou mais nada nos restantes 85 minutos contra Marrocos, não se viu contra o Irão e pareceu não estar em campo contra o Uruguai.
Agora que a nossa seleção está fora da Rússia, dou um conselho aos telespetadores: adotem outra seleção, torçam por ela e mantenham o entusiasmo. O Mundial ainda não acabou!