São 12, umas meninas, outras quase mulheres, todas ligadas à Fundação O Século, sem experiência nas artes cénicas. Dão vida a este projeto cultural independente e voluntário – “O meu coração não é para cobardes” – e que partiu da vontade da atriz e encenadora Rita Frazão.
No início esteve um livro, “Mulheres que correm com os lobos”, que “aborda o interior de cada mulher como uma força poderosa, feita de bons instintos, de uma criatividade apaixonada e de um conhecimento imemorial”, conta a atriz.
Depois veio o palco como ferramenta e a peça “O meu coração não é para cobardes” como arma de arremesso em que se contam “histórias de amor mais resolvidas” e outros temas, como “o abandono, a violência, os abusos, mas sobretudo a coragem, a determinação e a força de viver”. A peça estreia-se hoje às 21h00 no auditório da Fundação O Século e repete amanhã pela mesma hora. No domingo é às 17h00. A entrada é livre, embora seja necessária reserva para garantir o lugar e os donativos – uma parte reverte para as jovens participantes – sejam bem-vindos.
Transformação O processo de seleção das jovens que hoje pisam o palco foi democrático. “Partiu de um convite meu e quem quis participar foi de livre vontade e interesse próprio.” E as 12 raparigas que sobem hoje ao palco, com idades entre os dez e os 17 anos, tiveram meio ano de preparação para este momento, um período de crescimento que dividem com a encenadora. “Tem sido uma evolução mútua, tanto para mim como para elas, e temos criado um elo de confiança e de grupo muito generoso nesta descoberta. A descoberta do eu e do outro é um exercício-base de teatro. Tão simples como aprender a saber ouvir, focar, explorar e falar do que sentimos, que são grandes etapas alcançadas”.
O exercício vai para além dos seis meses de trabalho e até do que hoje se poderá ver em palco. Porque, no decurso da preparação da peça, preparou-se também a vida. “As jovens têm trabalhado na sua transformação através da arte, no empowerment feminino e na resolução de algumas histórias familiares por meio das ferramentas que o teatro oferece”. E como amores há muitos e não se findam nas parelhas românticas, a peça fala também de outras formas de amor. “As histórias de amor, realmente, começam com a nossa primeira relação, a relação materna e ou paterna. Por isso quis usar o palco como espaço de catarse artística e ferramenta de empoderamento para as jovens e o público”.
Rita Frazão gosta desta duplicidade, desta força do teatro usado como ferramenta social e espaço de libertação. “A transformação pelo teatro é uma ferramenta incrível na formação humana e no desenvolvimento pessoal, especialmente para estas jovens, que estão numa fase de vida crucial para poderem, com a devida orientação, transformar as suas vidas de forma positiva, viver o presente e potenciar o futuro”. Mas este projeto tem para a atriz e encenadora ainda mais uma camada de proximidade. “Neste caso especial, e sendo eu também de São Pedro do Estoril, pretendi oferecer à minha comunidade o meu contributo na construção de personalidades fortes através do conceito de empowerment pelo teatro e da performance”.
E se a peça se escreve no feminino, a mensagem que querem inscrever não tem género – nem cor, nem lugar ou idade. “Valorizar o altruísmo, a generosidade, a honra, a ética, a moral, a integridade, a bondade, a esperança e a justiça. Estes deveriam ser os valores motores de qualquer artista (e ser humano)”, resume a atriz.
Depois do espetáculo de hoje, o projeto desdobra-se em mais dois momentos: no próximo ano será a vez de Rita Frazão subir ao palco, em monólogo, dirigida pelo encenador brasileiro Eduardo Coutinho; em 2020 será um grupo de atores nacionais e internacionais a dar vida a este coração sem cobardias.