Embarcação sem rumo no Mediterrâneo. Eurodeputado fala em situação “de grande debilidade”

Embarcação sem rumo no Mediterrâneo. Eurodeputado fala em situação “de grande debilidade”


João Pimenta Lopes, eurodeputado do PCP, pernoitou na embarcação da organização Lifeline, que tem 234 pessoas a bordo. Há vários dias que se tenta obter autorização para desembarcar os migrantes


O eurodeputado do Partido Comunista Português (PCP) João Pimenta Lopes alerta para a possibilidade de agravamento da situação – já crítica – dos migrantes resgatados pela embarcação Lifeline, devido às alterações previstas do mar.

O navio Lifeline está ao largo da ilha de Malta e tem 234 pessoas a bordo, incluindo 14 mulheres e quatro crianças (duas com menos de dois anos e um bebé de quatro meses), que resgatou perto da costa da Líbia. Há vários dias que tenta obter sem sucesso autorização para desembarcar os migrantes.

Em declarações à agência Lusa, o eurodeputado do PCP sublinhou que a grande preocupação se prende não só com a ausência de resposta das autoridades a estes migrantes, que há quatro dias estão a aguardar autorização para desembarcar, mas com o agravamento previsto do estado do mar.

"Há uma preocupação acrescida que são as condições climatéricas que, até ao momento, têm sido favoráveis, pois o mar está praticamente sem ondulação, o que tem possibilitado que não haja, por exemplo, situações de enjoo a bordo. Mas a partir de amanhã [terça-feira] as condições climatéricas vão alterar-se e isso vai criar uma situação crítica dentro da embarcação", alerta.

João Pimenta Lopes refere que "o problema não é o enjoo (…), são as situações acumuladas de uma parte significativa destas mais de 230 pessoas que estão a bordo, que vêm em condições físicas muito debilitadas já e que os vómitos e a desidratação que daí resulta podem fazer com que, em poucas horas, uma situação que é grave mas esta estável passe a uma situação perfeitamente dramática e que ponha em risco a vida destas pessoas", explicou.

O eurodeputado pernoitou na embarcação da organização Lifeline e considera que a situação a bordo "é de grande debilidade e dificuldade". Apesar de achar que o barco está preparado para resgate e salvamento, "nenhuma embarcação está preparada para suportar ao longo de quatro dias mais de 200 pessoas a bordo, apinhadas no deque".

"Isto é mais um elemento para exigir que seja dada, sem demoras, autorização para acostagem e desembarque a estas pessoas, num porto de abrigo o mais próximo possível", considerou.

João Pimenta Lopes sublinhou ainda que "a própria embarcação não tem condições para estar tanto tempo com tanta gente" e recordou que uma outra embarcação [Alexander Maersk] está há igualmente quatro dias ao largo da Sicília a aguardar autorização para acostar.

No caso da segunda embarcação, as pessoas estarão em piores condições, uma vez que se trata um barco comercial, com 113 pessoas resgatadas a bordo, mas que não está equipado com mantimentos ou cobertores para dar este tipo de resposta, acrescentou.

"Não há resposta [das autoridades]. É o chamado jogo do empurra. As autoridades italianas remetem para as líbias a resposta, as maltesas, com alguma hipocrisia, não autorizam a entrada nas suas águas territoriais, mas fornecem alimentos, mantas e medicamentos, perguntando até se havia gasolina, o que é uma contradição", afirmou o eurodeputado comunista.