Cultura: da Madeira para o mundo


O papel de Portugal no mundo está muito para além dos compromissos burocráticos e claustrofóbicos da União Europeia. Existe um caminho diferente em que podemos assumir a nossa influência


Se lhe dissessem que havia uma espécie de novo CCB onde se promovem artistas portugueses, onde se reúnem diariamente dezenas de pessoas para apreciar exposições, para assistir a conferências e ciclos de cinema ou, simplesmente, para apreciar a ímpar vista oceânica acompanhadas de um café e ao som de música ao vivo; se lhe dissessem que neste espaço existe um cowork moderno para empresas com possibilidade de usufruto de diversos serviços, desde jurídicos a tecnológicos e de apoio à internacionalização; se lhe dissessem que o conceito despertou interesse na comunidade lusófona e que está em vias de ser implementado em Cabo Verde ou em Moçambique, ou que a estratégia passava, para além da cultura, pelo turismo, pelos eventos e pela hotelaria; se lhe dissessem ainda que tudo isto nasceu da cabeça de dois jovens empreendedores portugueses a quem o governo regional cedeu um espaço sem necessidade de se gastar milhões de euros do erário público, acreditaria?

Pois acredite. Na Madeira, com sede no Fórum Machico, nasceu a Atlanticulture, e tudo aquilo que descrevi é real e está em andamento. Ali, a aposta é simples: criar um centro de desenvolvimento e de conhecimento alicerçado nas artes, na tecnologia e na criatividade, numa perspetiva inclusiva e multidisciplinar. O compromisso é simples e com uma potencialidade eficaz. Usar a cultura, combiná-la com a economia, com o turismo e com a inovação, e projetar Portugal no mundo.

Depois da sua inauguração, com a exposição de uma das duplas mais conhecidas no mundo da fotografia digital, DDiArte, o próximo passo passa, obrigatoriamente, pelos Açores, completando com Cabo Verde, que pela voz do seu ministro da Cultura já assumiu a adesão ao conceito – o triângulo da Macaronésia que fala português.

Num tempo em que a identidade é constantemente posta à prova, em que a capacidade de saltar barreiras e fronteiras nem sempre se coaduna com determinados interesses, o projeto Atlanticulture é uma boa notícia para Portugal, para a sua cultura, para os artistas e para aqueles que querem empreender. É a prova de que a “portugalidade”, isto é, a capacidade de servirmos de elo de ligação entre diferentes culturas e povos, de transpormos fronteiras aproximando-nos e juntando esforços com um “novo mundo” com mais de 200 milhões de falantes, é uma ferramenta indispensável no mundo global em constante mudança, construído e reconstruído diariamente pela vivificação das suas gentes. É a prova de que o papel de Portugal no mundo está muito para além dos compromissos tendencialmente burocráticos e claustrofóbicos de uma União Europeia cada vez mais isolada entre si, de que existe um caminho diametralmente diferente em que podemos assumir, sob diversas formas, a nossa influência, em que podemos partilhar experiências e vivências, em que podemos projetar o que temos de melhor, receber o melhor dos outros e, sobretudo, aprender. Aprender fortalecendo-nos num metajogo ambicioso de partilha e aprendizagem.

Os desafios deste mundo global obrigam-nos a pensar e a repensar o nosso posicionamento. Obrigam-nos a olhar para outros lados, a buscar novas ideias e novos parceiros. A aliar o nosso maior património (a língua e a cultura) à nossa vontade de empreender, às tecnologias, à indústria e à economia. Obriga-nos a encarar a cultura não como um nicho, mas como uma ferramenta transversal às mais diversas áreas de atividade. Se quisermos, obrigam-nos, como noutro tempo, não a descobrir, mas a redefinir novas rotas de comércio e de interação. A presença de Portugal no mundo é indiscutível qualquer que seja o continente que se visite. Utilizemos isso a nosso favor e a favor daqueles que de nós, pelos mais variados aspetos, se aproximam.

Deputado do PSD. Docente universitário
Escreve à segunda-feira


Cultura: da Madeira para o mundo


O papel de Portugal no mundo está muito para além dos compromissos burocráticos e claustrofóbicos da União Europeia. Existe um caminho diferente em que podemos assumir a nossa influência


Se lhe dissessem que havia uma espécie de novo CCB onde se promovem artistas portugueses, onde se reúnem diariamente dezenas de pessoas para apreciar exposições, para assistir a conferências e ciclos de cinema ou, simplesmente, para apreciar a ímpar vista oceânica acompanhadas de um café e ao som de música ao vivo; se lhe dissessem que neste espaço existe um cowork moderno para empresas com possibilidade de usufruto de diversos serviços, desde jurídicos a tecnológicos e de apoio à internacionalização; se lhe dissessem que o conceito despertou interesse na comunidade lusófona e que está em vias de ser implementado em Cabo Verde ou em Moçambique, ou que a estratégia passava, para além da cultura, pelo turismo, pelos eventos e pela hotelaria; se lhe dissessem ainda que tudo isto nasceu da cabeça de dois jovens empreendedores portugueses a quem o governo regional cedeu um espaço sem necessidade de se gastar milhões de euros do erário público, acreditaria?

Pois acredite. Na Madeira, com sede no Fórum Machico, nasceu a Atlanticulture, e tudo aquilo que descrevi é real e está em andamento. Ali, a aposta é simples: criar um centro de desenvolvimento e de conhecimento alicerçado nas artes, na tecnologia e na criatividade, numa perspetiva inclusiva e multidisciplinar. O compromisso é simples e com uma potencialidade eficaz. Usar a cultura, combiná-la com a economia, com o turismo e com a inovação, e projetar Portugal no mundo.

Depois da sua inauguração, com a exposição de uma das duplas mais conhecidas no mundo da fotografia digital, DDiArte, o próximo passo passa, obrigatoriamente, pelos Açores, completando com Cabo Verde, que pela voz do seu ministro da Cultura já assumiu a adesão ao conceito – o triângulo da Macaronésia que fala português.

Num tempo em que a identidade é constantemente posta à prova, em que a capacidade de saltar barreiras e fronteiras nem sempre se coaduna com determinados interesses, o projeto Atlanticulture é uma boa notícia para Portugal, para a sua cultura, para os artistas e para aqueles que querem empreender. É a prova de que a “portugalidade”, isto é, a capacidade de servirmos de elo de ligação entre diferentes culturas e povos, de transpormos fronteiras aproximando-nos e juntando esforços com um “novo mundo” com mais de 200 milhões de falantes, é uma ferramenta indispensável no mundo global em constante mudança, construído e reconstruído diariamente pela vivificação das suas gentes. É a prova de que o papel de Portugal no mundo está muito para além dos compromissos tendencialmente burocráticos e claustrofóbicos de uma União Europeia cada vez mais isolada entre si, de que existe um caminho diametralmente diferente em que podemos assumir, sob diversas formas, a nossa influência, em que podemos partilhar experiências e vivências, em que podemos projetar o que temos de melhor, receber o melhor dos outros e, sobretudo, aprender. Aprender fortalecendo-nos num metajogo ambicioso de partilha e aprendizagem.

Os desafios deste mundo global obrigam-nos a pensar e a repensar o nosso posicionamento. Obrigam-nos a olhar para outros lados, a buscar novas ideias e novos parceiros. A aliar o nosso maior património (a língua e a cultura) à nossa vontade de empreender, às tecnologias, à indústria e à economia. Obriga-nos a encarar a cultura não como um nicho, mas como uma ferramenta transversal às mais diversas áreas de atividade. Se quisermos, obrigam-nos, como noutro tempo, não a descobrir, mas a redefinir novas rotas de comércio e de interação. A presença de Portugal no mundo é indiscutível qualquer que seja o continente que se visite. Utilizemos isso a nosso favor e a favor daqueles que de nós, pelos mais variados aspetos, se aproximam.

Deputado do PSD. Docente universitário
Escreve à segunda-feira