Alice vista ao espelho


Passados cem anos sobre “O Imigrante” (1917), o célebre filme de Charlie Chaplin, é impressionante constatar que a História se repete de uma forma descaradamente semelhante. Olhando o espelho do nosso tempo, tenho a certeza de que estamos em perda


Não consigo recordar o momento preciso da conversa nem tão-pouco o seu motivo. Sei que terá sido numa altura de intensa luta política em que nos fomos cruzando com mais frequência. Um certo dia, entre a ressaca de um protesto ou o projetar de novos, falávamos sobre o dia da revolução que há de vir. Concordávamos que depois desse dia haveria muito mais gente disponível para tratar de todos, pelo que seria o momento desejado para nos afastarmos do centro e procurarmos estar com os nossos, vivendo os dias na sombra tranquila de um mundo melhor. Apesar de não ter memorizado o contexto, esta conversa nunca me saiu da cabeça, numa doce imagem de um futuro lento e com tempo para gostar de cada momento entre família e amigos, longe do buliço. 

Durante a última semana, esta conversa não me saiu da cabeça.

Com a nossa consciência coletiva a ser violentada entre as imagens de crianças enjauladas e separadas dos pais, à espera de autorização para entrar no país de Trump, e as de um barco com pessoas a chegar ao porto de Valência depois de lhe ter sido negado abrigo por um governo italiano pejado de ministros fascistas, falta-me capacidade de sintetizar neste espaço tudo o que politicamente seria importante ser escrito sobre o assunto.

Por estes dias revi “O Imigrante” (1917), de Charlie Chaplin. É impressionante constatar que, passados cem anos, a História se repete de uma forma descaradamente semelhante, mas também não é irrelevante constatar que há 50 anos havia mais esperança de que se estariam a trilhar diversos caminhos em diferentes partes do mundo para a emancipação do ser humano.

Olhando o espelho do nosso tempo, tenho a certeza que estamos em perda. Temo que aqueles dias imaginados em exclusividade com e para os nossos, logo a seguir ao primeiro dia desse outro novo mundo, estejam sempre mais longe e que, mesmo depois de conquistado, haja sempre alguém à espreita para o derrubar.


Alice vista ao espelho


Passados cem anos sobre “O Imigrante” (1917), o célebre filme de Charlie Chaplin, é impressionante constatar que a História se repete de uma forma descaradamente semelhante. Olhando o espelho do nosso tempo, tenho a certeza de que estamos em perda


Não consigo recordar o momento preciso da conversa nem tão-pouco o seu motivo. Sei que terá sido numa altura de intensa luta política em que nos fomos cruzando com mais frequência. Um certo dia, entre a ressaca de um protesto ou o projetar de novos, falávamos sobre o dia da revolução que há de vir. Concordávamos que depois desse dia haveria muito mais gente disponível para tratar de todos, pelo que seria o momento desejado para nos afastarmos do centro e procurarmos estar com os nossos, vivendo os dias na sombra tranquila de um mundo melhor. Apesar de não ter memorizado o contexto, esta conversa nunca me saiu da cabeça, numa doce imagem de um futuro lento e com tempo para gostar de cada momento entre família e amigos, longe do buliço. 

Durante a última semana, esta conversa não me saiu da cabeça.

Com a nossa consciência coletiva a ser violentada entre as imagens de crianças enjauladas e separadas dos pais, à espera de autorização para entrar no país de Trump, e as de um barco com pessoas a chegar ao porto de Valência depois de lhe ter sido negado abrigo por um governo italiano pejado de ministros fascistas, falta-me capacidade de sintetizar neste espaço tudo o que politicamente seria importante ser escrito sobre o assunto.

Por estes dias revi “O Imigrante” (1917), de Charlie Chaplin. É impressionante constatar que, passados cem anos, a História se repete de uma forma descaradamente semelhante, mas também não é irrelevante constatar que há 50 anos havia mais esperança de que se estariam a trilhar diversos caminhos em diferentes partes do mundo para a emancipação do ser humano.

Olhando o espelho do nosso tempo, tenho a certeza que estamos em perda. Temo que aqueles dias imaginados em exclusividade com e para os nossos, logo a seguir ao primeiro dia desse outro novo mundo, estejam sempre mais longe e que, mesmo depois de conquistado, haja sempre alguém à espreita para o derrubar.