É óbvio que não. Pode até ter votado no PS, mas nesse caso queria ter um António Costa a governar com maioria absoluta. Pode até ter votado PCP, mas nesse caso queria era ter um partido de protesto a fazer o discurso dos sindicatos na Assembleia da República. Pode até ter votado BE, mas nesse caso o que almejava mesmo era ter um partido de classe média alta, travestido de proletário, a fazer o discurso das minorias no parlamento.
Eu sei que parece mal dizer a verdade e que a esquerda criou o mito de que debater as circunstâncias em que foi criada a coligação parlamentar das esquerdas é puro ressabiamento de uma direita que nunca recuperou do trauma. No entanto, temos de ser sinceros: a geringonça nasceu do “desenrasque” de um partido que estava há demasiados anos sem conseguir alimentar a sua clientela, junto com o espírito oportunista de dois partidos radicais que quiseram, uma vez na vida, mostrar que não são completamente inconsequentes.
Se os eleitores de esquerda quisessem mesmo uma esquerda unida, teriam votado no Livre – o maior flop eleitoral dos últimos anos –, que foi a única força política que se apresentou a eleições com um programa político em que defendia uma solução do género da que foi fabricada por António Costa.
Não me surpreende, pois, que Carlos César – qual rottweiler socialista – tenha vindo à praça pública criticar os seus parceiros de coligação e dizer que “abriu a época oficial de caça ao voto”. Mais uma vez, caímos na parábola do escorpião: o veneno está- -lhes na sua natureza e o Partido Socialista sabe que mais cedo ou mais tarde será atraiçoado pelos seus queridos amigos. Afinal, pau que nasce torto, tarde ou nunca se endireita.
Publicitário