A presidente do Comité Nacional para o Abandono das Práticas Nefastas (CNAPN), Fatumata Djau Baldé, esteve de visita a Portugal no âmbito de um projeto entre Portugal e Guiné – Bissau, implementado pela P&D Factor, que se dedica ao desenvolvimento e cooperação da população, e revelou que existem líderes islâmicos a recomendarem a mutilação genital feminina.
A CNAPN dedica-se à erradicação de algumas práticas, como a mutilação genital feminina, casamentos forçados e o casamento infantil e, de acordo com Fatumata, em entrevista à RTP, estas práticas atentam contra as mulheres. "Só elas é que são submetidas aos casamentos infantis, só as mulheres é que sãoobrigadas a casar, às vezes não conhecendo os maridos nem gostando deles. A violência doméstica, a violência sexual, os sistemas tradicionais de herança. As mulheres são sempre as vítimas".
De acordo com uma campanha lançada em janeiro deste ano pela Associação Mulheres Sem Fronteiras, 6576 mulheres e raparigas – a partir dos 15 – foram vítimas de mutilação genital e 1830 raparigas estão em risco de serem submetidas a esta prática ilegal.
Na Guiné – Bissau, 45% das raparigas e mulheres entre os 15 e os 49 anos são submetidas a este procedimento, das quais 42% têm entre os 15 e 19 anos. A prática é defendida por alguns líderes de mesquitas, que consideram que esta é uma “recomendação islâmica”, por estar inscrita no Corão e que é feita para que as raparigas sejam “puras”, diz a responsável à RTP.
A mutilação genital feminina é uma prática que consiste na incisão parcial ou total do clitóris e/ou lábios vaginais, a sangue frio.
Fatumata diz que muitas das comunidades emigrantes em Portugal se “comportam como se estivessem nos países de origem”, sendo que a mutilação genital foi passada de geração em geração e é, por isso, considerada tradição, e posteriormente executada.
Na mesma entrevista, a presidente da CNAPN admite que os homens têm mais responsabilidade quando uma mulher é mutilada. “Ele é o chefe da família e a mulher faz o que ele disser. Se ele disser ‘não’, é ‘não, mas se a mulher for autónoma também pode decidir por ela. Se bem que é difícil definir onde está a autonomia, porque temos exemplos de mulheres que até são escolarizadas e estão a trabalhar, mas ainda dependem muito da decisão do marido.”