Glasgow School of Art. Um edifício maldito

Glasgow School of Art. Um edifício maldito


Depois de há quatro anos um incêndio ter destruído por completo a biblioteca desenhada por Charles Rennie Mackintosh, e com as obras de recuperação já em fase final, a Glasgow School of Arts voltou a arder. E desta vez  é possível que se tenha perdido para sempre.


Quatro anos depois do incêndio que obrigara à requalificação da Glasgow School of Art, a única escola superior pública de Belas Artes, Arquitetura e Design da Escócia, que acolhia a icónica biblioteca projetada pelo arquiteto Charles Rennie Mackintosh, voltou a arder – desta vez com danos maiores, a ponto de a imprensa britânica ter começado ontem a questionar-se sobre se seria possível recuperá-lo.

Mais de 120 bombeiros apoiados por 20 viaturas tentaram controlar o fogo que deflagrou pouco depois das 23h de sexta-feira, sem conseguirem impedir que alastrasse à contígua sala de concertos, a O2 ABC. A cobertura e os andares superiores do edifício ficaram completamente destruídos num incêndio que assumiu proporções tais que obrigou os bombeiros a combaterem-no apenas de fora, pelo risco de colapso da estrutura. “Parece ter ficado totalmente destruído por dentro. Parecem ter sobrado apenas as paredes de pedra”, dizia ao “Guardian” um dos professores da escola, Alan Dunlop. 

Apesar de não ter havido registo de vítimas, a polícia foi ainda assim obrigada a retirar 27 pessoas das suas casas por precaução. Segundo os relatos de alguns residentes dos quarteirões vizinhos à imprensa britânica, as chamas eram, durante a noite de sexta-feira para sábado, visíveis das ruas vizinhas. 

No sábado, a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, descrevia o fogo como “muito, muito pior do que o que atingiu o edifício de Mackintosh há quatro anos”, com danos bem mais “graves e extensos” desta vez. “Há avaliações e discussões a decorrer entre os bombeiros e os responsáveis do edifício sobre a estrutura e a sua segurança”, afirmou a governante escocesa no local, respondendo já à pergunta que ecoava na cabeça de todos como pouco mais do que um desejo: “Obviamente esperamos que o edifício possa ser salvo, mas é demasiado cedo para retirarmos qualquer conclusão”. 

O último incêndio, causado em maio de 2014 pela inflamação acidental de gases que um estudante usava num trabalho, afetara 259 das suas salas e tinha já deixado várias pedras com fendas e pouco seguras para voltarem a ser reutilizadas. Um ano depois, em 2015, veio o anúncio de que o projeto de reabilitação do icónico edifício de Glasgow, que contemplava a sua biblioteca, a mais icónica sala do edifício, que ficou dessa vez completamente destruída, seria entregue ao Page Park, um premiado ateliê de arquitetura britânico. 

As obras estavam quase finalizadas quando neste fim de semana o edifício voltou a ser tomado pelas chamas. Ironicamente, estava também em fase final de instalação um novo sistema de aspersores desenhado para tornar o edifício mais resistente ao fogo. Pouco mais de uma semana antes, a cidade tinha comemorado os 150 anos do nascimento do homem que o projetou, natural de Glasgow.

Charles Rennie Mackintosh, arquiteto e designer escocês cuja carreira acompanhou a viragem do século XIX para o século XX e foi, em conjunto com a sua mulher, Margaret Macdonald, um dos nomes fundamentais para movimentos como a Arte Nova, de que a biblioteca da Glasgow School of Arts, onde o próprio se formou, era um exemplo.