Ontem, depois das comemorações do 10 de junho, onde o Presidente fez uma sugestão curiosa sobre o assunto, afirmando que Portugal prefere “a paciência dos acordos à volúpia das ruturas”, Costa veio repetir uma frase que já tinha dito há uns tempos, antes de ter decidido fazer a subir a tensão com a esquerda.
Vale a pena repetir ipisi verbis a frase: “Se à primeira era muito difícil, porque ninguém tinha experiência, à segunda foi mais fácil, à terceira foi mais fácil ainda e à quarta, mesmo que as questões sejam muitas, é mais fácil, porque ganhamos, entretanto, confiança, conhecimento e hábitos de trabalho que ajudarão”.
Costa repete assim exatamente o que disse em abril, num debate quinzenal, em resposta à deputada Heloísa Apolónia: “Vamos negociar o Orçamento do Estado para 2019 da mesma forma que negociámos o de 2018, o de 2017 e o de 2016, com uma enorme vantagem em relação aos anteriores: é que à quarta é muito mais fácil do que à primeira, Já nos conhecemos melhor, já temos boas razões para confiar mais uns nos outros. Seguramente, o próximo orçamento vai ser mais fácil de negociar do que o deste ano”.
É interessante a decisão de Costa ter recuperado ontem a ideia da “confiança” entre parceiros, quando é público e notório, por atos e palavras, que a confiança entre governo e partidos que o sustentam no parlamento nunca esteve tão baixa. As acusações de “deslealdade” têm sido correntes nos últimos tempos, principalmente depois de Costa ter assinado com a UGT e patrões um acordo de concertação social nas costas de Bloco e PCP.
Na realidade, o único que pode ter agora ganhos de causa com uma crise política é Costa. Cabe-lhe provar que não está a trabalhar para isso.