O burnout é, por definição, um distúrbio que se caracteriza pelo esgotamento físico, mental e psíquico de alguém. Normalmente, é associado ao stresse no trabalho. Em linguagem mais simples, é o que faz ser possível num minuto estarmos a trabalhar e, no minuto seguinte, deixarmos de funcionar.
Apesar de o termo ser pouco conhecido para alguns, a verdade é que os números impressionam e é possível que não saiba o nome mas conheça casos de quem enfrentou ou enfrenta ainda este problema.
Em 2016, o burnout afetava já mais de 13,7% das pessoas ativas em Portugal e havia já profissões destacas por terem taxas de incidência maiores. Além disso, era elevada a percentagem de trabalhadores em risco: 82%. Apesar de afetar trabalhadores em todas as áreas, independentemente da idade, há quem fale em riscos superiores em setores de atividade onde o stresse é muito maior. Mas não só. Também há quem associe ao excesso de trabalho, que pode, muitas vezes, ser traduzido em excesso de horas de trabalho. Recentemente, Jorge Cid, bastonário dos médicos veterinários, sublinhou que “esta profissão é a que tem mais suicídios a nível mundial. Portanto, tornou-se importante falar especificamente do burnout e como é que se deve comunicar com as pessoas”. E porquê? Entre outras questões, “as pessoas trabalham muito tempo. Não têm horas, não têm fins de semana e não têm noites porque são chamados a qualquer hora. Além disso, lidam com uma sociedade cada vez mais imediatista. Além de que a sociedade está mais exigente, mas com uma exigência ilógica”.
Mas estará o burnout diretamente ligado ao número de horas que se trabalha? A verdade é que as profissões com piores horários parecem estar mais próximas do risco. E como está Portugal em matéria de horas extraordinárias?
De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), juntando todos os setores de atividade, em média, os portugueses trabalham cerca de oito horas extraordinárias semanalmente. Partindo para os diferentes setores, pode dizer-se que é na agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca que a percentagem de trabalhadores a fazer horas extraordinárias é menor. No entanto, dos 85 milhares de trabalhadores do setor, 8,6% fez horas extra. Já na indústria, construção, energia e água, a percentagem de trabalhadores por conta de outrem a fazer horas extra foi de 15%. Nos serviços, o INE refere que, em 2017, 14,5% dos trabalhadores deste setor fizeram horas extra. Em média, falamos de 9 horas semanais, neste caso.
Dentro das profissões que mais se destacam por casos de burnout estão, por exemplo, enfermeiros, polícias, bombeiros, professores e médicos, ainda que, na verdade, o burnout já se tenha generalizado.
Com ou sem horas extraordinárias, é preciso recordar que, de acordo com os dados da Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho, 50% dos trabalhadores considera o stress algo comum no trabalho, sendo que cerca de 60% é a percentagem de dias de trabalho perdidos devido ao stresse associado à atividade profissional. De acordo com vários especialistas, o excesso de trabalho, as exigências contraditórias, uma má gestão de mudanças organizacionais, falta de apoio da parte de chefias ou até colegas e assédio também fazem parte dos fatores que pesam na incidência deste problema, que afeta cada vez mais trabalhadores, profissões e empresas.
BURNOUT OU DEPRESSÃO
O termo chamou muito a atenção de todos depois de Eduardo Barroso dizer que o presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, tinha entrado num estado de burnout. Mas qual é a linha que separa este estado da depressão? De acordo com o Centro para a Informação Biotecnológica norte-americano, os sintomas de alguém com esta síndrome são exaustão, alienação de atividades associadas à vida profissional e diminuição do nível de desempenho. Todos podem ser incluídos num diagnóstico de depressão. Mas são dois problemas diferentes. A maioria dos problemas que dão origem do burnout estão relacionados com a vida profissional. No caso da depressão, os pensamentos negativos e a exaustão não estão apenas ligadas ao trabalho, mas também a outras áreas da vida pessoal.
Ainda assim, é preciso ter em conta que, “as pessoas que sofrem de burnout não têm necessariamente de ter uma depressão, mas este problema pode aumentar o risco de a desenvolver”, explica o Centro para a Informação Biotecnológica.
Recorde-se que o burnout custa já 329 milhões de euros por ano às empresas. Horta Osório decidiu dar a cara pelo problema num artigo de opinião e o tema voltou a chamar a atenção. Com o tema na agenda mediática, o bastonário da Ordem dos Psicólogos, Francisco Miranda Rodrigues, quantificou o impacto do burnout: “A perda de produtividade gerada pelo absentismo causado por problemas de saúde psicológica pode custar às pequenas e médias empresas (PME) cerca de 212 milhões por ano e às grandes empresas 117 milhões”.