A União Europeia é composta por 28 países: a eutanásia só é legal em dois, Bélgica e Holanda. Quando o aborto foi despenalizado em Portugal, em 2007, a prática já era legal na esmagadora maioria dos países da UE (20), embora só agora a Irlanda tenha aprovado o sim.
O que nos dizem estes factos? Mostram-nos que, para a quase totalidade dos países que compõem a Europa, ao contrário do que vem na doutrina da Igreja Católica, a prática da eutanásia e do aborto não é idêntica. É por isso perfeitamente normal que o PCP, defensor desde a primeira hora da despenalização do aborto, tenha decidido votar contra os projetos da eutanásia. Ao fazê-lo, está em linha com as dúvidas existentes não só em quase todos os países europeus como na sociedade portuguesa e, naturalmente, no seu eleitorado. É uma posição legítima e os comunistas, habituados a estarem isolados na Europa, desta vez têm a companhia da maioria dos países “irmãos”.
Isto vem a propósito da argumentação que a deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua usou contra os comunistas, num ato de terrorismo verbal contra quem não partilha a sua visão do mundo relativamente à eutanásia, como se o PCP tivesse passado a comungar dos argumentos antiaborto dos radicais católicos: “Está lá fora uma concentração que lhe pede que vote contra a despenalização da morte assistida, como aliás irá fazer. Essas pessoas, que estão no seu direito, entendem que a vida não é de quem a vive mas de um poder transcendente, e que as mulheres devem ser criminalizadas pelo aborto”, disse Mariana Mortágua, comparando os comunistas, na pessoa de António Filipe, o deputado que defendeu a posição do PCP no debate, a Cavaco Silva ou à ativista antiaborto Isilda Pegado.
Não, o PCP e a maioria dos países europeus não são católicos radicais contra a despenalização do aborto. A questão divide a sociedade ao meio, como ficou claro no debate, quer tivesse ganhado o sim ou o não. É bom que os partidos, nas próximas legislativas, coloquem ao seu eleitorado a sua posição sobre esta matéria nos programas eleitorais. E o próximo parlamento representará, nesta matéria difícil, o que pensa o povo português.