Huesca. O clube que desaparecia de vez em quando

Huesca. O clube que desaparecia de vez em quando


Praticamente nasceu morto. Problemas financeiros foram motivos de vários desaparecimentos


Ora bem, Huesca não é propriamente uma cidade que ande nas bocas do mundo. Aliás, convenhamos que haverá muito boa gente que não faz ideia de onde fica, mas isso resolve-se já aqui ao lado, como diria o António Silva na “Canção de Lisboa”, com noves fora nada e tudo.

Para já, é a mais pequena capital de província de toda a Espanha, província que tem o mesmo nome e se situa na Comunidade Autónoma de Aragão. Pouco mais de 50 mil habitantes vivem na terra que trouxe, esta época, a maior surpresa da II Liga espanhola. Fundado em 1910, como Huesca Fútbol Club, abatido por motivos financeiros e por uma invasão violenta de campo perpetrada pelos seus adeptos num jogo frente ao Zaragoza, dois anos mais tarde renascido como Club Deportivo de Huesca, mais uma vez destruído nos anos-30 por motivos económicos, tornou-se Unión Deportiva Huesca em 1941. O drama não ficou por aqui: os casos financeiros ditaram o desaparecimento do clube. Nos anos 60 já era o que é hoje: Sociedad Deportiva Huesca.

A cidade de Huesca é velha como a noite dos tempos. Vem lá da invasão romana e os iberos chamavam-lhe Bolskan. A lei de Roma não esteve pelos ajustes: passou a ser Osca e Sertório abriu aí uma escola de enorme prestígio. Os anos foram passando, como é próprio dos anos. Centenas, mesmo mais de mil anos. Agora é uma urbe simpática, não muito longe de Saragoça, com um centro pejado de ruas pedonais que convidam ao passeio sob um céu sempre azul e um calor quase tropical.

O Estádio El Alcoraz leva pouco mais de 5 mil espectadores. Na próxima época receberá o Real Madrid, o Barcelona (que em 2014 teve um embate com o Huesca para a Taça do Rei, bastante doloroso para os aragoneses – 4-0 e 8-1) e os adeptos vão encolher-se como cavalas em lata para verem os grandes do futebol do mundo ao vivo e em casa. Sobretudo, isso: em casa.

Rubi foi o treinador desta espécie de milagre. Já tinha experiência de primeira, comandando o Levante e o Sporting Gijón. Apaixonado pelo estilo do tiki-taka, procurou aplicá-lo à equipa do Huesca com os resultados que se viram. Claro que também contou com a experiência de outros veteranos primodivisionários: Iñigo Lopez, Nagore, Jorge Pulido, Camacho, Luso, Lluis Sastre, Álvaro Vadillo, Moy Gomez. E com o toque mágico de talentos como Chucho Hernández, Gonzalo Melero e Ávila.

Chegará para as terríveis dificuldades que aí vêm?

Essa é a grande questão que os adeptos do Huesca querem ver respondida e, inevitavelmente, verão.

O milagre

Um jornal espanhol foi, nos últimos dias, à procura desta subida nunca anunciada e muito pouco prevista. 

“El milagro del club altoaragonés tiene dos patas: la económica y la deportiva. La primera ha consistido en apostar por la austeridad, imaginación y sentido común. ‘Si tenemos 5 euros, no gastamos 6’, dice el presidente Agustín Lasaosa. Los dirigentes, entre los que también hay que destacar al director deportivo Emilio Vega, han encontrado en el mercado los refuerzos para hacer una plantilla joven, equilibrada y competitiva”.

Jovem, equilibrada, competitiva: eis a fórmula, então.

E, atenção, os problemas já começaram: Rubi passou a ser um treinador apetecido. A forma como montou a sua máquina de futebol de passa e repassa com avanços seguros sobre o meio-campo contrário, correndo cada vez menos riscos à medida que se aperfeiçoa o sistema, muito à moda da escola de Cruyff, foi ainda mais apreciada depois de ter passado oito jornadas seguidas sem saber o que era uma vitória e a contas com uma enorme sangria de lesionados. Mais uma estrela no ombro do técnico que, neste momento, para além da renovação tem sobre a mesa propostas de clubes com bem melhores condições.

El Chucho, o colombiano com apenas 18 anos, emprestado pelo Watford, a grande sensação da II Divisão espanhola desta época, também terá de regressar a Inglaterra. O seu estilo elegante e voraz, que lhe valeu 16 golos até agora, não será fácil de substituir.

Mas, para já, as gentes de Huesca comemoram a façanha como se estivessem em plenas festividades de San Lorenzo, o padroeiro da cidade, que também não tardam muito: de 9 a 15 de Agosto. 

Afinal, a surpresa até pode não ser tão surpreendente assim, se me desculpam o pleonasmo. É que na época passada o Huesca atingiu os play-offs de subida à primeira, tendo caído perante o Getafe.

Foi uma desilusão? Certamente. Mas também um momento de aprendizagem e de crescimento que permitiu aos seus responsáveis e aos seus jogadores terem garantido a ascensão a duas jornadas do fim da prova, sempre num ombro a ombro renhido com o Rayo Vallecano e deixando longe o Gijón.

O seu lema ergue-se orgulhoso para os escolhos que se levantam: “Fieles siempre sin reblar!”

Sempre fiéis, sem nunca recuar!

Com ponto de exclamação.

Ou seja: para eles não há volta atrás.