No, no se puede


A decisão de Irene Montero e Pablo Iglesias comprarem, por 600 mil euros, uma vivenda nos arredores de Madrid indicia os primeiros sinais de desfasamento com a realidade pela imagem pública produzida.


Uma das tarefas essenciais de um partido é compreender a realidade em que opera. Isto não quer dizer que deva fazer depender a sua proposta política exclusivamente dessa análise mas que deve apresentar respostas para as principais questões do momento presente em termos e modos que a maioria entenda. Este processo é contrário à centralização das formas de decisão porque concentra em poucos a capacidade decisória, o que vai condicionando a discussão cingindo-a à vida entre pares.

O Podemos provocou um furacão pela forma como se apresentou na vida política. Tinha indefinições e incoerências, mas que correspondiam às do seu tecido social. Num encontro com jovens comunistas que o interpelavam sobre se era comunista Iglesias respondia que identificar-se enquanto tal quebrava as pontes com uma parte das pessoas a quem queria chegar. Noutra intervenção, recordava que Lenine quando intervinha numa fábrica em greve, não discorria sobre Marx mas falava de direitos, do pão e do trabalho.

A decisão de Irene Montero e Pablo Iglesias comprarem, por 600 mil euros, uma vivenda nos arredores de Madrid indicia os primeiros sinais de desfasamento com a realidade pela imagem pública produzida. A campanha mediática anti-Podemos não deixou escapar a oportunidade deixando nas entrelinhas a possibilidade de haver negócios sujos colando o Podemos às práticas de corrupção que atingem outros partidos e, sobretudo, que têm vindo a ser provados ser prática corrente do PP de Mariano Rajoy. Contudo esse não parece ser o problema tendo em conta que os rendimentos do casal são compatíveis com o crédito contraído.

Irene e Pablo são, respectivamente, porta-voz e secretário-geral do Podemos. Isso é péssimo, por maiores méritos individuais que tenham. Coloca questões familiares e privadas da vida de ambos no epicentro das suas escolhas políticas e diminui o mundo do partido. Numa declaração atabalhoada, Pablo Iglesias veio esclarecer que tinham decidido mudar-se para o campo porque não aguentavam a pressão mediática dentro da cidade e queriam que os futuros filhos pudessem viver noutro ambiente. Ora, nem o campo fica a 40 kms de Madrid, nem a pressão diminuirá com a vivenda e a piscina, nem o modelo suburbano que ensaiam é sustentável…

Perante as críticas que se fazem sentir Iglesias responde com um referendo interno em que coloca à disposição o seu lugar, demonstrando não estar a perceber que o problema já não é do partido mas de vínculo identitário com “os de baixo” com os quais deverá continuar a lutar. 


No, no se puede


A decisão de Irene Montero e Pablo Iglesias comprarem, por 600 mil euros, uma vivenda nos arredores de Madrid indicia os primeiros sinais de desfasamento com a realidade pela imagem pública produzida.


Uma das tarefas essenciais de um partido é compreender a realidade em que opera. Isto não quer dizer que deva fazer depender a sua proposta política exclusivamente dessa análise mas que deve apresentar respostas para as principais questões do momento presente em termos e modos que a maioria entenda. Este processo é contrário à centralização das formas de decisão porque concentra em poucos a capacidade decisória, o que vai condicionando a discussão cingindo-a à vida entre pares.

O Podemos provocou um furacão pela forma como se apresentou na vida política. Tinha indefinições e incoerências, mas que correspondiam às do seu tecido social. Num encontro com jovens comunistas que o interpelavam sobre se era comunista Iglesias respondia que identificar-se enquanto tal quebrava as pontes com uma parte das pessoas a quem queria chegar. Noutra intervenção, recordava que Lenine quando intervinha numa fábrica em greve, não discorria sobre Marx mas falava de direitos, do pão e do trabalho.

A decisão de Irene Montero e Pablo Iglesias comprarem, por 600 mil euros, uma vivenda nos arredores de Madrid indicia os primeiros sinais de desfasamento com a realidade pela imagem pública produzida. A campanha mediática anti-Podemos não deixou escapar a oportunidade deixando nas entrelinhas a possibilidade de haver negócios sujos colando o Podemos às práticas de corrupção que atingem outros partidos e, sobretudo, que têm vindo a ser provados ser prática corrente do PP de Mariano Rajoy. Contudo esse não parece ser o problema tendo em conta que os rendimentos do casal são compatíveis com o crédito contraído.

Irene e Pablo são, respectivamente, porta-voz e secretário-geral do Podemos. Isso é péssimo, por maiores méritos individuais que tenham. Coloca questões familiares e privadas da vida de ambos no epicentro das suas escolhas políticas e diminui o mundo do partido. Numa declaração atabalhoada, Pablo Iglesias veio esclarecer que tinham decidido mudar-se para o campo porque não aguentavam a pressão mediática dentro da cidade e queriam que os futuros filhos pudessem viver noutro ambiente. Ora, nem o campo fica a 40 kms de Madrid, nem a pressão diminuirá com a vivenda e a piscina, nem o modelo suburbano que ensaiam é sustentável…

Perante as críticas que se fazem sentir Iglesias responde com um referendo interno em que coloca à disposição o seu lugar, demonstrando não estar a perceber que o problema já não é do partido mas de vínculo identitário com “os de baixo” com os quais deverá continuar a lutar.