Em Espanha, o casal que lidera o Podemos comprou uma moradia, com piscina e um pequeno riacho, por cerca de 600 mil euros. Por cá, António Costa adquiriu um andar no Rato por 55 mil euros e vendou-o por cem mil. Pablo Iglesias e Irene Montero lideram um partido que, em fevereiro, apresentou um projeto-lei que é um verdadeiro ataque à propriedade privada; por cá, António Costa chefia um governo que se diz preocupado com a especulação imobiliária em Lisboa.
É de rir, não fosse triste e perigoso. A duplicidade de critérios de pessoas como Iglesias e Costa é fantástica: eles podem; já os outros, se o fizerem, são capitalistas, exploradores ou fascistas. Comunistas, isso não, que há quem o considere uma honra. Nada disto é novidade – a História foi-nos dando inúmeros exemplos semelhantes, mas a maioria esqueceu-se.
Em Espanha, os feitos de Iglesias não se ficam pela compra de uma casa. É sabido o quanto a questão do financiamento dos partidos é importante para a extrema-esquerda. Ora, as suspeitas de que Iglesias poderá ter sido financiado pela Venezuela e pelo Irão seriam suficientes para descredibilizar qualquer político. Qualquer um, menos o líder da extrema-esquerda, simplesmente porque a sua base de apoio depende totalmente dele.
É sabendo isso mesmo que Iglesias, perante o escândalo que é a compra da sua casa de luxo, não se demite, não pede desculpa ou vende a casa ou faz outra coisa qualquer que lhe devolva um mínimo de dignidade. Não. O que Iglesias propõe é um referendo à sua liderança. Um plebiscito. É como se dissesse, em jeito de ameaça: “Eu tenho o poder e sou assim. Se quiserem, votem contra, vou-me embora e o partido acaba.”
Por cá, a esquerda que se diz horrorizada com o investimento imobiliário, que tem recuperado prédios que antes caíam aos bocados, a esquerda que alerta para a população que é desalojada com a especulação imobiliária já assobia para o lado quando quem investe (ou será que especula?) é António Costa. Porquê? Porque a sua base de apoio precisa dele. Precisa que se mantenha no governo porque lhe dá jeito, porque ganha com isso. Quando se pergunta como é que tanta gente pode ser cega, seja fingindo não perceberem quem era Sócrates, aceitando Iglesias ou assobiando para o lado com os negócios de Costa, a resposta não é muito difícil de dar. Está à vista de todos, se não quisermos viver de olhos fechados.
Advogado
Escreve à quinta-feira