António Arnaut. É terrível falar da morte de alguém que foi decisivo para o país sem cair no chorrilho de lugares comuns, os maiores inimigos da comunicação. Como falar de António Arnaut sem dizer aquela frase batida (e que se torna inaudível como todos os discursos banais) de que o país fica mais pobre? António Arnaut foi um homem decisivo para o país, ao criar o Serviço Nacional de Saúde nos anos 70, mas, nos seus 82 anos, continuava a ser um homem do presente e a defender o seu legado: o facto de ter feito este ano, em conjunto com João Semedo, a nova lei de bases da Saúde que o BE apresentou é o exemplo do homem que luta por aquilo que acredita até ao último minuto da sua vida. Arnaut era enorme na sua integridade e ética genuinamente republicanas. Numa das entrevistas dos últimos anos, contou que se veio embora da vida política quando a corrupção entrou. Abandonou cargos, mas não ideias.
A melhor homenagem que se pode fazer ao presidente honorário do PS é não as deixar cair. Júlio Pomar. Eu cresci, como muitos portugueses, num “Café Central”. Cresci em frente a um painel de Júlio Pomar, que o pintor fez para o café central das Caldas da Rainha então propriedade dos seus amigos Maldonado Freitas. Pomar era o pintor feliz. O retrato oficial que fez do Presidente Mário Soares, seu amigo foi na época polémico – mas é difícil um retrato oficial fazer transbordar a personalidade de um Presidente como Pomar fez de Soares, sendo verdade que Pomar já desenhava Soares quando foram amigos e companheiros das celas da PIDE na juventude. Foi um pintor genial e um combatente. Philip Roth. Tudo o que eu sei sobre a América aprendi com Roth e Saul Bellow.
Para quem não leu nenhum dos livros recomendo “A Conspiração contra a América” em que Roth imagina a sua autobiografia num cenário em que em vez de Roosevelt tivesse sido o nazi Charles Lindbergh a ganhar as presidenciais de 1940. O nosso século XX já estava esquecido. Agora, está a morrer aos poucos.