Ao que parece, finalmente, os líderes políticos de Angola e Portugal acertam de novo o passo. Mais do que todo um passado e a história que liga os países, há um futuro que não pode ser ignorado sob pena de criar prejuízos mútuos.
Portugal precisa tanto de Angola como o contrário. Os laços que unem os dois países não se podem desfazer de um dia para o outro, qualquer que seja o motivo e por mais gravoso que possa parecer.
Nos últimos tempos, as relações foram abaladas e por motivos que em nada podem e devem interferir nas relações políticas e diplomáticas de dois países. Estados democráticos jamais se podem deixar melindrar por questões do foro judiciário que, como se sabe, é um pilar distinto da arquitetura democrática de um Estado.
No final do mês de junho relança-se uma nova etapa das relações luso-angolanas com a visita do primeiro-ministro de Portugal a Luanda. Haverá muito para debater e, certamente, muito para tratar, nomeadamente processos antigos e que continuam a incomodar as duas nações.
Mas o que, honestamente, gostava de ver como resultado desta cimeira era a definição de um novo horizonte, novas metas e novos projetos.
Alheios a todos estes, se quiserem, problemas que beliscaram as relações entre os dois países, alguns setores de atividade continuaram a cooperar e, em alguns casos, a intensificar as suas relações.
Falo daquele que domino e no qual me integro, que é o setor das comunicações. Ao nível da regulação, nos últimos tempos, as relações entre a ANACOM e o INACOM foram fortalecidas e os canais de comunicação e entreajuda entre as duas entidades mantiveram uma via aberta para a cooperação. A nível governativo, tanto Angola como Portugal têm-se empenhado, e muito, na prossecução de um objetivo maior e virado para o futuro. Já aqui o abordei por várias vezes e dá pelo nome de Agenda Digital para a CPLP.
Em bom rigor, Angola e Portugal são apenas dois dos nove atores que têm contribuído para este projeto e seria injusto não destacar Moçambique, Cabo Verde ou Brasil, assim como os restantes países da CPLP. Mas atendendo a este serenar do relacionamento entre os dois países e ao que podem retirar para as suas agendas futuras de cooperação desta iniciativa, faço aqui a devida referência.
O projeto de Agenda Digital para a CPLP, mais do que um documento estratégico e de reconhecimento de um valor maior que é o Mercado da CPLP, é antes de tudo uma grande oportunidade para todos os Estados-membros. E, neste caso concreto, uma ferramenta para que neste encontro entre Portugal e Angola se possam firmar objetivos reais entre os dois países à luz desta agenda.
As possibilidades são inúmeras, desde logo porque a Agenda Digital para a CPLP, se aprovada em Malabo no dia 4 de junho, é um instrumento transversal a todos os setores e que visa dotar os países de orientações estratégicas que permitam promover a competitividade e o desenvolvimento económico. Em segundo lugar, porque dá pistas e aponta caminhos para que os países possam acompanhar a digitalização da economia a que temos assistido, proporcionando oportunidades e projetos concretos que promovem o desenvolvimento individual de cada um dos membros da CPLP e da comunidade como um todo.
Angola estará em peso na reunião ministerial de Malabo e tem contribuído ativamente para a construção deste projeto, porque está empenhada no desenvolvimento de competências digitais que lhe permitam ganhar competitividade no mercado digital global.
Portugal tem apostado fortemente no desenvolvimento de infraestruturas e competências digitais e, como tal, não pode nem deve ficar de fora deste projeto. Seria muito interessante ver o nosso primeiro-ministro levar na agenda de Luanda este projeto da Agenda Digital para a CPLP.
Vivemos numa economia cada vez mais digitalizada e global. Mas há um espaço intermédio e privilegiado que pode permitir-nos o desenvolvimento de competências e fortalecer a competitividade das nossas economias para, com maior assertividade, integrarmos o mercado digital global. Esse espaço é o Mercado da CPLP, e o caminho uma Agenda Digital.
Escreve à quinta-feira