Este é um espaço onde se fala de tudo, mesmo que o que me tenha trazido até aqui tenha sido o tema “Cancro com Humor”. Falo de tudo o que me lembro porque, nesta minha curta experiência existencial, apercebo-me de que cada tópico de conversa, cada assunto, cada coisa que me acontece, cada situação que observo estão ligados entre si, conectados sem nunca fugir ao tema principal: porque se é de vida que falo, nada se exclui. Fala–se de tudo porque nada existe em separado, porque uma experiência dá sentido à outra.
Os acontecimentos destas semanas têm-nos entusiasmado a comentar, excitadíssimos, nas redes sociais (porque já não se fala nos cafés nem nas salas de convívio), de segundo a segundo, numa empolgação sem medida, com textos, imagens, vídeos e memes, numa urgência social qualquer. Não, não me apetece falar especificamente sobre clubes de futebol, nem “jardins”, nem Brunos de Carvalho, porque não só nada tenho a acrescentar como prefiro refletir sobre o que todos esses acontecimentos têm em comum, ao invés de especificar cada um deles: a obsessão. A obsessão que sentimos em fazer parte de cada polémica, de cada espiral, de cada confusão que nos aparece à frente. A obsessão que nos estimula a opinar, partilhar as nossas pequenas opiniões significantes ou nem por isso, por todos aqueles que nos queiram ver ou ouvir. Gostamos de participar mesmo que não tenhamos muito a acrescentar. E não, não estou a criticar, aliás, estou a meter-me no saco porque é exatamente isso que faço: partilho. Vivo diariamente para isso. Gosto de participar na conversa e de vos contar o que sinto, o que acho. E às vezes questiono-me se isso tem alguma validade. Se terá algum interesse apresentar a minha opinião a alguém. Às vezes interrogo-me se não nos cansamos uns aos outros com opiniões excessivas, com argumentos a mais, com verdades absolutas irrelevantes.
Este fim de semana, quando refletia sobre isso e fazia a minha pequena greve de silêncio, não postando absolutamente nada sobre a Eurovisão, o futebol ou outra polémica qualquer, participei ao vivo e a cores (é sempre tão melhor assim) num encontro em Odivelas organizado pela “Sempre Mulher – Associação de Apoio a Mulheres com Cancro de Mama”. Lá está, a partilha que me fez sentir nervosa porque entraria “em contramão” com a fase de jejum que sentia.
Antes de entrar no pavilhão onde decorreu o evento encontrei-me com a A., seguidora do projeto Cancro com Humor, recente Careca Power, com quem falo pelas redes sociais, onde ela desabafa comigo o seu estado de alma. Quando a vi, a A. emocionou- -se muito, deixando-me a mim também comovida por nos abraçarmos com afeto, por nos querermos bem, mesmo sem nos conhecermos. E qual é a primeira coisa que a A. me diz?
“Obrigada pelas tuas partilhas.”
Pumba. Com isto, já não estou a fazer a “dieta da partilha” mesmo que me faça bem alguma contenção. Mantenho o mesmo sentimento em relação ao excesso de barulho que existe (e que eu faço também!) e continuo a achar que, muitas vezes, estou melhor calada. Mas a partilha (também) cura. A partilha quebra muros. A partilha promove abraços destes. A partilha faz parecer normal o que tu sentes porque outro também sente. A partilha traz igualdade. Acho que é isso. A partilha iguala, democratiza, porque na partilha percebemos que, no fundo, pensamos, sentimos e vivemos as mesmas coisas. E isso não é necessariamente mau ou desinteressante. No cancro, por exemplo, ajuda. Ajuda partilhar a experiência e igualá-la àquela ali.
A partilha diz-te que fazes parte de um todo e que talvez por isso estejas protegido por muitos.
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Escreve à quinta-feira