1. Foi tal a torrente noticiosa e analítica a respeito do terrorismo sobre os jogadores e treinadores do Sporting, agravado pela derrota do Jamor, que se apagaram praticamente as notícias sobre os escândalos Pinho e Sócrates e as suas repercussões políticas e criminais. De passagem, também se deixou de falar do congresso do PS, da geringonça, da incompetência na preparação do combate aos fogos e da situação económica que tende a regredir, devido ao preço do petróleo e ao aumento dos juros da nossa dívida.
A nossa comunicação social, nomeadamente a televisiva, mostrou melhor do que nunca o que é óbvio: funciona de forma quase monotemática, com debates e monólogos intermináveis, notícias repetidas até à náusea.
António Costa confirmou, entretanto, que tem uma sorte danada. Quando está em dificuldades, logo aparece qualquer coisa que apaga o problema. É certo que ele não é de se encolher e entra nos temas mesmo que defendendo propostas demagógicas, como criar uma autoridade para combater a violência no desporto. É a solução do costume. Aparece mais uma espécie de polícia a juntar a umas quantas que já existem em utilidade e avia-se a rapaziada que vai ocupar os lugares com umas benesses simpáticas. Uns anos depois, extingue-se a coisa.
Quanto a Pinho e a Sócrates, a crise futebolística foi um bálsamo para lhes dar algum descanso: porreiro, pá! Deles apenas se soube que Pinho deixou misteriosamente de ser arguido no caso EDP, aparentemente por uma falha técnica do Ministério Público. Já Sócrates teve direito a uma homenagem a que poucos compareceram. Ficaram umas dezenas de amigos de verdade, porventura alguns a quem ele nunca ligou nos dias de glória.
2. A profunda crise do Sporting tende a arrastar-se. Há a esperança de que Bruno de Carvalho seja banido amanhã, a bem do futuro da instituição. Depois, é esperar que alguém realmente competente e capaz tome conta do clube. É bom que haja consciência de que a situação catastrófica não se resolve com tios ou sobrinhos que já têm explicações a dar a respeito de contas de outros rosários, que causaram um prejuízo de milhares de milhões aos contribuintes portugueses. Ontem apareceu, entretanto, o nome de Poiares Maduro, certamente o ministro mais incompetente que passou pela área da comunicação social, como é comprovado pela confusão que gerou na RTP através da criação de uma monstruosidade tachista chamada Conselho Geral Independente. Pôr a criatura no Sporting seria suicidário para um clube que é património de Portugal, como reconhecem até os adeptos dos rivais.
3. Álvaro Amaro merece o cognome de “Herói do Interior”. O atual presidente da Câmara da Guarda e, antes, de Gouveia, municípios que modificou positivamente de forma substancial, foi o primeiro inspirador e organizador das propostas apresentadas pelo Movimento Pelo Interior. Amaro e os seus pares entregaram um documento simples, racional e consensual, numa cerimónia apadrinhada pelo Presidente Marcelo. António Costa esteve lá e falou longamente. Quem o ouvisse diria que o seu governo não faz outra coisa a não ser pensar no interior. Falou de milhões e de soluções que não aplicou nem aplicará – uma barreira de demagogia palavrosa em que nenhum dos presentes acreditou. Fez política no pior sentido, que é autoelogiar-se e não ouvir os outros. Como respondia um velho sábio do povo quando o interrogavam sobre o que tinha dito um certo político, “não disse nada, só falou”. As palavras de Costa, leva-as o vento. As lutas de Amaro e dos que o acompanharam vão no bom sentido para que Portugal não seja um deserto num interior que começa a menos de 50 quilómetros do litoral.
4. Lisboa tem uma grande oferta de acontecimentos desportivos de qualidade. E mais terá quando, em 2021, for Capital Europeia do Desporto. Mas há alguns eventos que se distinguem e merecem apoio e elogios especiais. É o caso do Challenge Lisboa Triatlo, pois junta, em três provas, os melhores individuais do mundo na modalidade, empresas que competem em estafeta e, numa terceira etapa, que é a mais simbólica e bonita, famílias que se envolvem e convivem nas três modalidades: natação, ciclismo e corrida a pé. A edição deste ano foi um êxito, mas percebe-se que há ali um potencial ainda a desenvolver, se a câmara souber agarrar e apoiar. É preciso perceber que há poucas cidades na Europa e no mundo que têm condições naturais e icónicas para um evento desta natureza tão específica. Vamos à obra!
Jornalista