Na semana passada, dia 9, celebrou-se o Dia da Europa. Em todos os Estados-membros da União Europeia (UE) houve atividades alusivas à comemoração, que praticamente passou ao lado de todos os cidadãos europeus. Portugal não foi exceção e das iniciativas agendadas poder-se-á destacar a conferência “Democracia 4.0 – O Futuro da Democracia na Era Digital”, organizada pelo comissário europeu Carlos Moedas, e em que entre os muitos oradores esteve, como seria de esperar dado o seu quase dom da ubiquidade, o Presidente da República. E pronto, Portugal “comemorado”!
Dia assinalado, a UE soma e segue por rotas por demais navegadas, sem dar mostras de almejar atingir o sonho europeu primordial. O dia 9 de maio assinala a Declaração de Schuman, em 1950, propondo a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), embrião da atual UE. Da evolução da CECA resultou a CEE, após ratificação do Tratado de Roma (1958): Alemanha, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, França e Itália. Outros tratados vieram depois – Ato Único Europeu (1985), Tratado da União Europeia (Maastricht, 1992), Tratado de Lisboa (2007)… –, dos seis membros iniciais chegámos aos 28 atuais. Aprofundamento europeu, pouco; ele é mais finanças e alargamentos… Pelo caminho entrou em vigor o euro (2002) e constituiu-se a zona euro, que produziu o nosso bem conhecido Eurogrupo, a que aderiram apenas 19 dos 28, ou 27 por via do Brexit. Chegados aqui – descrentes e desiludidos? –, é caso para nos interrogarmos se o projeto europeu dos visionários “pais fundadores”, Robert Schuman, Jean Monnet, e outros, foi sonho vão, pois ameaça começar a esboroar-se. Terá sido um castelo de areia?! Ou os castelões é que não têm estado à altura? Oxalá o castelo não desabe por incúria.
Prestes a ruir por completo esteve o donairoso Castelo de Porto de Mós, lá para os lados de Leiria, zona Centro, vindo das profundezas da fundação da nacionalidade, e logrou escapar à fúria dos homens e das intempéries. O que até nós chegou, e está aí a merecer visita, é um precioso exemplar de arquitetura tardomedieval portuguesa: torres cobertas com coruchéus piramidais, revestidos de cerâmica verde, uma varanda panorâmica (loggia) cujos vãos formados por arcos, colunas, capitéis e mísulas ornados com motivos vegetalistas dão ao conjunto uma elegância apalaçada. Rumando um pouco a norte, não se pode deixar de visitar o Castelo de Montemor-o-Velho, magnífica fortificação também ela vinda dos começos da portugalidade. Alçado sobre uma colina, remirando a vila e os arrozais em redor, aconchegado entre as muralhas e a barbacã, há um extenso espaço que se nos depara e onde pontoam edificações diversas: o Castelejo e a Torre de Menagem, medievais, a Igreja de Sta. Maria de Alcáçova, quinhentista, e o Paço Real (ou das Infantas), igualmente de origem medieval, tido como sendo onde D. Afonso iv decidiu mandar executar, em Coimbra, Inês de Castro. Hoje acolhe uma loja de turismo.
Se, em Portugal, muitos outros castelos atravessaram os tempos, pela Europa fora muitos mais abundam. Contra ventos e marés foram resistindo, sinal de resiliência das pedras e da vontade dos homens. É lamentável que o castelo da UE esteja em risco pela obstinação de homens sem vontade.
Gestora, Escreve quinzenalmente