Quando olho para o caso de Manuel Pinho, há uma série de interrogações que me assolam a alma. A passividade da extrema- -esquerda sobre o tema, em contraste com a agressividade que existiria caso fosse um ex-ministro de direita, a falta de solidariedade de António Costa para com o seu ex- -colega de governo, a forma como João Galamba se diz “envergonhado” com Pinho quando, na verdade, ambos sempre foram delfins de Sócrates, a forma displicente como a nossa classe política continua sem legislar para travar a corrupção e por aí adiante.
Não haveria carateres suficientes nesta coluna para continuar a divagar sobre a forma absolutamente irresponsável como os nossos governantes têm tratado este tema. Que nos valha a comissão de inquérito requerida pelo PSD na Assembleia da República que, ainda que inconsequente juridicamente, permitirá trazer para o debate público os necessários esclarecimentos de Manuel Pinho – que continua alegremente a viver entre Pequim e Manhattan, qual estrela internacional da economia.
Mas embora esta crónica seja sobre Manuel Pinho, a mesma não pretende ser uma crónica sobre como os políticos e a sociedade têm lidado com o tema. Esqueçamos o acessório e foquemo-nos no essencial: Portugal, em pleno séc. xxi, teve um ministro da Economia que, alegadamente, recebia um ordenado do Estado e outro pago por uma empresa privada que, pela sua dimensão, tinha óbvias relações de poder com o Estado.
A primeira pergunta que se impõe é, pois, a seguinte: quão leviana é esta pessoa? A segunda pergunta que devemos fazer é: quantos mais políticos terão existido na mesma situação? Por fim, a terceira pergunta é: qual o ponto de podridão moral da nossa sociedade para colocar pessoas destas em cargos de elevada relevância política?
Estas são as perguntas que todos devíamos colocar a nós próprios. Se quisermos ir ainda mais longe nestas questões, deveríamos também questionar-nos sobre o porquê de o exercício da política (e dos cargos públicos) ter deixado de ser um ato de cidadania e ter passado a ser um jogo de poder, revestido de pseudo-boas intenções. Qual foi o ponto em que deixámos de eleger pessoas que se propõem servir-nos enquanto cidadãos e passámos a eleger pessoas que usam a política apenas em benefício da sua carreira, do seu ego e das suas finanças pessoais?
Se queremos um país desenvolvido, temos de deixar de ter políticos que partilhem esta insustentável leveza ética de Manuel Pinho. Um dia, talvez consigamos corrê-los a todos da política.
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