Uma pérola (quase) esquecida…


A relativa interioridade de Arouca em nada apoucou o viço do território ou a vitalidade das suas gentes, mesmo sabendo-se fora da costumeira rota turística


Há meses, uma brochura comprada numa loja de turismo – “Porto e Norte de Portugal” –, dedicada sobretudo ao Porto, apresentava em breves pinceladas, porém curiosas, uma panorâmica do Norte, do litoral ao interior. Quem por aqui se guiasse, todavia, não chegaria a Arouca, onde se encontram os famosos Passadiços do Paiva, grandemente destruídos pelos incêndios de 2017, mas já repostos. Pois Arouca é um concelho (interior) da Área Metropolitana do Porto, cidade e centro de referência dos arouquenses. Mas a relativa interioridade de Arouca em nada apoucou o viço do território ou a vitalidade das suas gentes, mesmo sabendo-se fora da costumeira rota turística. Bem sabem que quem lá vai fica com vontade de voltar. E não é para menos: todo o município de Arouca está classificado como geoparque, reconhecido pela UNESCO, em abril de 2009, como património geológico da humanidade.

A vila cresceu à sombra do Mosteiro de Santa Maria de Arouca, entidade tutelar e joia de estimação dos arouquenses. Anteriormente morada beneditina, e já como convento feminino, no séc. xiii passou para a Ordem de Cister, sob orientação de D. Mafalda – filha de D. Sancho i, neta de D. Afonso Henriques, que viria a ser beatificada em finais de 1700 –, de longe a mais célebre monja do Mosteiro de Arouca, não obstante haver notícia de que outras mulheres da aristocracia coeva por aqui passaram. Rainha D. Mafalda, como é evocada, ou Santa Mafalda, ainda hoje Arouca a venera com orgulho, sendo deveras precioso o (seu) túmulo de vidro que está exposto na igreja do mosteiro. Mosteiro que alberga um museu de arte sacra muito interessante e cuja visita (guiada) permite conhecer outros espaços de igual interesse, de que é exemplo o sumptuoso cadeiral do coro.

No entanto, o que verdadeiramente enfeitiça é a natureza mágica do geoparque. Difícil é escolher por onde começar: aldeias tradicionais, percursos pedestres, rota dos geossítios, eis algumas das oportunidades. Começando pelo itinerário da serra da Freita, a “serra encantada”, a primeira paragem é na Panorâmica do Detrelo da Malhada, miradouro sobre o amplo vale de Arouca e serranias em redor – Gamarão, Arada, S. Macário, Caramulo, e longes a perder de vista –, pequenos pontilhados de povoações dispersas e, obviamente, a imponência das escarpas rochosas da Freita. De seguida, paragem obrigatória na Casa das Pedras Parideiras – Centro de Interpretação, ver o documentário alusivo, suficientemente esclarecedor, e sair para observar localmente, a céu aberto, este raríssimo fenómeno geológico, (talvez) único no mundo: nódulos negros que se soltam do granito claro e se espalham no chão.! Indescritível! Só visto.

Paragem seguinte na Frecha da Mizarela, que mais não parece ser do que um impressionante jorro de água que irrompe no cimo de um declive rochoso e se precipita da altura de umas dezenas de metros, para depois o rio retomar o seu curso sinuoso e revolto, pois é do rio Caima e de um extraordinário fenómeno de ancestral erosão que se trata. Espetacular! A ver, indiscutivelmente.

Há tantas pérolas esquecidas por esse país fora! Porquê o desperdício?

 

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