Esta semana, o novo partido Iniciativa Liberal decidiu descer a Avenida da Liberdade no já habitual desfile do 25 de Abril. Se a memória não me falha, esta foi a primeira vez que um partido ou organização que não é de esquerda participou nesta iniciativa. Foi uma boa iniciativa e ajudou a desmistificar uma ideia feita que subsiste no nosso Portugal dos pequeninos: a de que o 25 de Abril é da esquerda e que o 25 de Novembro é da direita. Mentira, absolutamente mentira.
A democracia, quando nasceu, nasceu para todos. Aliás, sobre este tema, adorei ler a Maria João Marques no Facebook: “Nunca gostei do ressabiamento de parte da direita com o 25 de Abril, preferindo o 25 de Novembro. O 25 de Novembro terminou com uma ditadura que nunca começou. O 25 de Abril terminou com uma ditadura de quase cinco décadas. Quem não percebe a diferença está bastante confuso.” Iria até mais longe: no próximo ano gostaria de ver Rui Rio e Assunção Cristas, com os seus respetivos partidos, a descerem também a avenida.
Um país só é verdadeiramente democrático quando as várias forças políticas conseguem encontrar pontos de entendimento sobre os valores-base que devem nortear qualquer sociedade evoluída. A democracia é, sem dúvida, o mais alto desses valores. Passaram-se décadas suficientes desde o 25 de Abril de 1974 para continuarmos aprisionados a velhos dogmas e a guerras que já não dizem nada a ninguém.
Mas não é só a direita que ainda lida mal com este tema. Também à esquerda, muitos há que dizem à boca cheia que Abril é de esquerda, que negam a existência de uma direita oposicionista ao antigo regime e que confundem a implementação da democracia com a ilegítima apropriação ideológica que o PCP e a esquerda mais radical fizeram desta data histórica. Alguém de direita que não gosta da democracia é tão besta e idiota como alguém de esquerda que gosta de ditaduras. Estamos todos esclarecidos sobre este tema?
Se Abril representa alguma coisa em Portugal, representa antes do mais a união de um povo que sucumbiu à ditadura e que mais tarde se libertou e se abriu ao mundo. Este é o dia em que a esquerda e a direita deviam dar as mãos e fazê-lo não só na Assembleia da República, mas principalmente nas ruas, junto do povo que os elegeu.
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