Na semana passada referi a grande mentira, nesta faço menção à grande hipocrisia. A do Bloco de Esquerda, do PCP e do PS sobre a lei das rendas. Preocupados que estão com o bem-estar dos inquilinos, mas de quem não se lembraram quando estes viviam (muitos ainda vivem) em casas degradadas, casas com humidade, sem cozinhas decentes, casas de banho sem condições, instalações elétricas que são risco de incêndio, pessoas que durante anos viveram assim e, se atentarmos ao que nos dizem os responsáveis destes três partidos de esquerda, deveriam continuar a viver desta forma.
Olhar para a Lisboa de hoje, depois da alteração da lei das rendas do anterior governo, e dizê-la pior que a anterior, daquela que os que ainda iam à Baixa (eu incluído) conheciam, é hipocrisia. É hipocrisia pegar no sofrimento dos que vivem em casas em mau estado porque os senhorios não têm capital, dinheiro para as recuperar. Desprezar o dinheiro como a esquerda despreza.
Sem rendas justas para o senhorio e para o inquilino, o que apenas o mercado (que são os inquilinos e os senhorios) consegue, não há capital para recuperar prédios e as casas caem de podres. Ignorar isto é hipocrisia. É hipócrita a ideia de que os proprietários são ricos tão-só porque são donos, mesmo que sem capital. Porque um proprietário, como também um empresário, sem capital é o melhor que esta esquerda pode ter: são donos, patrões que, por não investirem, exploram.
Mas falamos de políticos, no BE e no PCP, e também alguns no PS, que nutrem simpatias por doutrinas totalitárias, tantas vezes traduzidas em regimes e em tiques totalitários. O totalitarismo das pequenas coisas, dos pequenos atos, aparentemente insignificantes, indolores, e que por isso passam, vão sendo aprovados, aguentados pelos que sofrem, tolerados pelos que os deveriam combater. A desfaçatez com que pessoas que defendem doutrinas e regimes totalitários nos apontam o dedo e nos acusam dos males que eles próprios defendem e praticam envergonha-nos. É que muita gente sofreu com o comunismo para que nós tivéssemos a força, a moral para dizer “não!”. Mas não o fazemos. E essa nossa omissão é também uma pequena parte da grande hipocrisia.
Advogado
Escreve à quinta-feira