Elas ainda andam aí…


As meningites quase desapareceram, mas, ao mínimo descuido, poderemos voltar a ter surtos daquela que é a doença infecciosa mais grave do “mundo ocidental”


Assinala-se hoje o Dia Mundial Contra a Meningite. Ao mesmo tempo, começa a Semana Europeia da Vacinação. As meningites quase desapareceram, graças à vacinação, mas os microrganismos estão aí… o mínimo descuido e teremos novamente surtos daquela que é a doença infeciosa mais grave do “mundo ocidental”.

Fica aqui um abraço ao Lenine Cunha, o atleta paraolímpico mais medalhado do planeta, que, por ter tido uma meningite bacteriana que o deixou “isolado” do mundo, sem poder comunicar e com sequelas, teve a força interior e os apoios familiares para se dedicar ao desporto e tornar num campeão como nunca se viu. Estive com ele ontem. Antes de um Atleta, um grande Homem! Um exemplo que deveria ser referenciado para todos os jovens!

Uma meningite é uma infecção das membranas que cobrem o cérebro e a espinal medula, e do líquido que circula entre elas, e pode ser causada por três tipos de micróbios: bactérias, vírus e fungos. 

Descrita pela primeira vez há quase 200 anos, a meningite sempre foi considerada uma doença muito grave – não apenas para o cidadão comum como também para os próprios profissionais. Com a chegada dos antibióticos, o prognóstico começou a melhorar e a meningite deixou de ser uma doença sistematicamente fatal, mas ainda com grande taxa de mortalidade e de sequelas.

As vacinas desempenham um papel determinante na prevenção da doença, como por exemplo a vacina contra a parotidite (papeira) integrada na VASPR, que permitiu “acabar” com uma das meningites mais frequentes (embora não a mais grave), o BCG que preveniu as formas graves de meningite tuberculosa, e as mais recentes vacinas contra as meningites bacterianas, essas sim, extremamente graves, como as causadas pelo haemophilus influenzae tipo B, pelos vários pneumococos (a atual vacina cobre 13 estirpes desta bactéria), ou pelos meningococos B e C.

Não é correto, pois, dizer-se que há uma “vacina da meningite” – o que há é vacinas para os vários micróbios que causam meningite. Outro tipo de meningite é o provocado quando o bebé se infeta ao passar o “canal de parto” e a mãe é portadora (a maioria das vezes sem sintomas ou sinais) de uma bactéria, o estreptococo B – hoje, uma boa prática obstétrica inclui a deteção antes do parto e tudo se resolve antes do bebé nascer. 

Há meningites e meningites, umas correm melhor, outras menos, pois tudo depende do conjunto de factores que se cruzam em cada caso: o micróbio, a idade, as defesas imunitárias da pessoa, a gravidade da infecção, a sua evolução clínica e até (pode dizer-se) a sorte ou o azar de cada um. 

A maneira como os micróbios invadem as meninges e o sistema nervoso central varia. Este está bem defendido contra o ataque dos microorganismos, através de um sistema de filtragem do sangue (denominado “barreira hemato-encefálica”) e de mecanismos imunológicos que protegem esta parte tão nobre do organismo.

Os micróbios, por seu lado, podem existir no solo, no ar, na água, ou, na maioria dos casos, na própria pessoa e nas pessoas que rodeiam a criança, em geral, seja de forma transitória, seja “alojados” a longo prazo, especialmente na garganta, na faringe e no nariz (é o caso dos pneumococos ou dos meningococos) e o próprio nem dá por isso, na maioria das vezes.

Quando há uma oportunidade para o micróbio entrar no organismo e no sangue, seja porque se tornou mais agressivo, porque a pessoa está com a imunidade “em baixo” (naturalmente, por doenças ou por acção de tratamentos imunossupressores), e se os mecanismos de defesa não conseguem vencer essa primeira luta, podem depois invadir as meninges e o líquido que as reveste, causando uma meningite, ou o cérebro, causando uma encefalite. 

Em casos mais raros, os micróbios entram por extensão directa, através de uma ferida (a seguir a um traumatismo craniano, por exemplo) ou de um foco infeccioso grave (abcesso do ouvido, etc.).

Os sintomas da doença relacionam-se com a idade da criança e com o agente causador, de qualquer forma a sua interpretação nem sempre é fácil. São sinais incaracterísticos o que facilmente nos despista, baralha e confunde. Por exemplo, uma febre de 40 graus acompanhada de vómito pode levantar suspeitas, mas também é normal em algumas crianças vomitarem quando a temperatura fica muito alta. Os sintomas e sinais de meningite são conhecidos da população em geral – febre, vómitos, prostração e rigidez dos músculos da nuca -, no entanto nenhum deles é exclusivo da meningite e, especialmente no bebé pequeno, podem estar ausentes, ou substituídos por sintomas e sinais ainda mais inespecíficos.  

Nas crianças mais velhas e nos adultos, a doença aparece de uma “forma brusca” com febre alta, vómitos, aversão à luz e grande prostração. Uma convulsão ou perda da consciência podem ser as primeiras manifestações de que algo se passa. 

Apesar de toda esta preocupação que envolve a doença, a verdade é que é possível prevenir, seja através das vacinas que conseguem evitar praticamente todas as meningites graves, mas também da profilaxia aos contactos de crianças com a doença – quando surgem surtos de meningite bacteriana em infantários e escolas, é possível evitar a doença administrando um antibiótico durante três ou cinco dias consoante os casos. Este medicamento tem a função de eliminar a bactéria da garganta das pessoas infectadas e evitar a doença. 

Tratar as otites e outras infecções da cabeça “correcta e atempadamente”, e prevenir os traumatismos cranianos permite uma redução de potenciais focos de infecção das meninges.

Estar atento aos sinais e sintomas, sem entrar em pânico, e esclarecer as suspeitas com o médico-assistente é a melhor forma de se chegar a um diagnóstico mais precoce e, por consequência, ter mais probabilidade de evitar complicações e sequelas.  

No Dia Mundial contra a Meningite, não esqueçamos esta doença e, sobretudo a sua prevenção: vacinar, vacinar e vacinar!

 

Pediatra

Escreve à terça-feira 


Elas ainda andam aí…


As meningites quase desapareceram, mas, ao mínimo descuido, poderemos voltar a ter surtos daquela que é a doença infecciosa mais grave do “mundo ocidental”


Assinala-se hoje o Dia Mundial Contra a Meningite. Ao mesmo tempo, começa a Semana Europeia da Vacinação. As meningites quase desapareceram, graças à vacinação, mas os microrganismos estão aí… o mínimo descuido e teremos novamente surtos daquela que é a doença infeciosa mais grave do “mundo ocidental”.

Fica aqui um abraço ao Lenine Cunha, o atleta paraolímpico mais medalhado do planeta, que, por ter tido uma meningite bacteriana que o deixou “isolado” do mundo, sem poder comunicar e com sequelas, teve a força interior e os apoios familiares para se dedicar ao desporto e tornar num campeão como nunca se viu. Estive com ele ontem. Antes de um Atleta, um grande Homem! Um exemplo que deveria ser referenciado para todos os jovens!

Uma meningite é uma infecção das membranas que cobrem o cérebro e a espinal medula, e do líquido que circula entre elas, e pode ser causada por três tipos de micróbios: bactérias, vírus e fungos. 

Descrita pela primeira vez há quase 200 anos, a meningite sempre foi considerada uma doença muito grave – não apenas para o cidadão comum como também para os próprios profissionais. Com a chegada dos antibióticos, o prognóstico começou a melhorar e a meningite deixou de ser uma doença sistematicamente fatal, mas ainda com grande taxa de mortalidade e de sequelas.

As vacinas desempenham um papel determinante na prevenção da doença, como por exemplo a vacina contra a parotidite (papeira) integrada na VASPR, que permitiu “acabar” com uma das meningites mais frequentes (embora não a mais grave), o BCG que preveniu as formas graves de meningite tuberculosa, e as mais recentes vacinas contra as meningites bacterianas, essas sim, extremamente graves, como as causadas pelo haemophilus influenzae tipo B, pelos vários pneumococos (a atual vacina cobre 13 estirpes desta bactéria), ou pelos meningococos B e C.

Não é correto, pois, dizer-se que há uma “vacina da meningite” – o que há é vacinas para os vários micróbios que causam meningite. Outro tipo de meningite é o provocado quando o bebé se infeta ao passar o “canal de parto” e a mãe é portadora (a maioria das vezes sem sintomas ou sinais) de uma bactéria, o estreptococo B – hoje, uma boa prática obstétrica inclui a deteção antes do parto e tudo se resolve antes do bebé nascer. 

Há meningites e meningites, umas correm melhor, outras menos, pois tudo depende do conjunto de factores que se cruzam em cada caso: o micróbio, a idade, as defesas imunitárias da pessoa, a gravidade da infecção, a sua evolução clínica e até (pode dizer-se) a sorte ou o azar de cada um. 

A maneira como os micróbios invadem as meninges e o sistema nervoso central varia. Este está bem defendido contra o ataque dos microorganismos, através de um sistema de filtragem do sangue (denominado “barreira hemato-encefálica”) e de mecanismos imunológicos que protegem esta parte tão nobre do organismo.

Os micróbios, por seu lado, podem existir no solo, no ar, na água, ou, na maioria dos casos, na própria pessoa e nas pessoas que rodeiam a criança, em geral, seja de forma transitória, seja “alojados” a longo prazo, especialmente na garganta, na faringe e no nariz (é o caso dos pneumococos ou dos meningococos) e o próprio nem dá por isso, na maioria das vezes.

Quando há uma oportunidade para o micróbio entrar no organismo e no sangue, seja porque se tornou mais agressivo, porque a pessoa está com a imunidade “em baixo” (naturalmente, por doenças ou por acção de tratamentos imunossupressores), e se os mecanismos de defesa não conseguem vencer essa primeira luta, podem depois invadir as meninges e o líquido que as reveste, causando uma meningite, ou o cérebro, causando uma encefalite. 

Em casos mais raros, os micróbios entram por extensão directa, através de uma ferida (a seguir a um traumatismo craniano, por exemplo) ou de um foco infeccioso grave (abcesso do ouvido, etc.).

Os sintomas da doença relacionam-se com a idade da criança e com o agente causador, de qualquer forma a sua interpretação nem sempre é fácil. São sinais incaracterísticos o que facilmente nos despista, baralha e confunde. Por exemplo, uma febre de 40 graus acompanhada de vómito pode levantar suspeitas, mas também é normal em algumas crianças vomitarem quando a temperatura fica muito alta. Os sintomas e sinais de meningite são conhecidos da população em geral – febre, vómitos, prostração e rigidez dos músculos da nuca -, no entanto nenhum deles é exclusivo da meningite e, especialmente no bebé pequeno, podem estar ausentes, ou substituídos por sintomas e sinais ainda mais inespecíficos.  

Nas crianças mais velhas e nos adultos, a doença aparece de uma “forma brusca” com febre alta, vómitos, aversão à luz e grande prostração. Uma convulsão ou perda da consciência podem ser as primeiras manifestações de que algo se passa. 

Apesar de toda esta preocupação que envolve a doença, a verdade é que é possível prevenir, seja através das vacinas que conseguem evitar praticamente todas as meningites graves, mas também da profilaxia aos contactos de crianças com a doença – quando surgem surtos de meningite bacteriana em infantários e escolas, é possível evitar a doença administrando um antibiótico durante três ou cinco dias consoante os casos. Este medicamento tem a função de eliminar a bactéria da garganta das pessoas infectadas e evitar a doença. 

Tratar as otites e outras infecções da cabeça “correcta e atempadamente”, e prevenir os traumatismos cranianos permite uma redução de potenciais focos de infecção das meninges.

Estar atento aos sinais e sintomas, sem entrar em pânico, e esclarecer as suspeitas com o médico-assistente é a melhor forma de se chegar a um diagnóstico mais precoce e, por consequência, ter mais probabilidade de evitar complicações e sequelas.  

No Dia Mundial contra a Meningite, não esqueçamos esta doença e, sobretudo a sua prevenção: vacinar, vacinar e vacinar!

 

Pediatra

Escreve à terça-feira