Os políticose o serviço público


O recente escândalo dos deputados açorianos é sintomático da forma como muitos políticos veem o exercício das funções de deputado


O maior problema da democracia portuguesa, ao fim de tantos anos, continua a ser a forma maquiavélica e bacoca – à esquerda e à direita – como muitos políticos encaram o serviço público que se predispuseram a prestar-nos aquando das eleições. Em muitas daquelas cabeças, somos nós que devemos agradar- -lhes, presenteá-los e satisfazê-los – e não o contrário.

Já escrevi aqui algumas vezes que a grande parte dos políticos deviam ser profissionais de excelência e com elevado reconhecimento público nas suas áreas profissionais. No entanto, como também já afirmei no passado, não me choca que exista na política uma minoria de profissionais de carreira. O que não pode continuar a acontecer é estes serem a esmagadora maioria dos detentores de cargos públicos em relação aos outros cidadãos que têm uma vida fora da política e uma carreira consolidada.

O recente escândalo dos deputados açorianos é sintomático da forma como muitos políticos veem o exercício das funções de deputado. Mas é também sintomático da podridão moral de uma sociedade que aceita com passividade que existam uma série de familiares a trabalhar no mesmo governo e, ainda pior, que o presidente do Partido Socialista tenha toda a sua família, da mulher ao filho, passando pela nora e até pela sobrinha, empregados no Estado e em lugares diretamente ligados à vida política.

Mas uma coisa é fazer tudo isto e conseguir que a sociedade feche os olhos, o partido assobie para o lado e a comunicação social se mantenha caladinha. Outra coisa bem diferente é ter a distinta lata de fazer o que Carlos César fez e ainda vir para os jornais defender algo que é indefensável, principalmente vindo do político português com a menor legitimidade possível para debater temas como este.

O anunciado julgamento de vários políticos e cidadãos que alegadamente subornaram políticos demonstra que vivemos numa sociedade mais evoluída e, principalmente, mais fiscalizadora dos titulares de cargos públicos. No entanto, é preciso dar o passo seguinte. É necessário e urgente, caso queiramos ser uma democracia verdadeiramente evoluída, que comecemos a exigir não só que os políticos cumpram a lei, mas também que sejam detentores de um caráter impoluto e que – pelo menos a maioria – tenham uma carreira consolidada e de notório sucesso antes de entrarem na política. Pode custar, pode alterar drasticamente o panorama político nacional, mas é o único caminho possível.

 

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