Nos últimos tempos, quase todas as semanas somos confrontados com notícias relativas a casos de corrupção ou de fraude em que estão envolvidos atuais ou ex-políticos.
Dois casos muito recentes, entre outros.
Uma ex-presidente da câmara, atual deputada à Assembleia da República, é indiciada do recebimento indevido de ajudas de custo e ressarcimento de despesas de viagem durante a sua atividade de autarca. Na sequência de buscas judiciais para recolha de prova, quando confrontada pela comunicação social sobre o processo em que é arguida, a resposta, adornada com um enorme sorriso, foi que estava “de consciência tranquila”.
Um deputado e chefe de bancada na Assembleia da República, foi “apanhado”, juntamente com outros deputados dos círculos insulares, a ser ressarcido pela Assembleia das despesas de viagens de e para as ilhas e, em simultaneo, a receber o subsídio de transporte aéreo pago pelo orçamento da respetiva região autónoma. Ou seja, a receber em duplicado do erário público ajuda de custo para as mencionadas deslocações. Também neste caso, a resposta para as câmaras foi a mesma da sua colega de bancada, “estou de consiciência tranquila”.
Estar de “conciência tranquila” é, ou parece ser, uma caraterística comum a todos os envolvidos em casos como estes. Eu, pelo meu lado, que não estou diretamente envolvido neles, fico de consciência intranquila. Pela falta de princípios éticos de que dão mostra alguns dos meus concidadãos eleitos para os mais altos lugares de responsabilidade política; pelas suas “consciências tranquilas”.
Aliás, sobre este último aspeto, dou comigo a pensar em círculo, sem conseguir encontrar a saída para o dilema que me avassala: as ditas consciências estão “tranquilas” porque confiam que a justiça “ladra mas não morde”, isto é, que raramente um processo chega ao seu termo? Ou a “tranquilidade” resulta do facto de tais consciências já estarem tão embotadas que o estado da intranquilidade já não ativa em caso algum?
O quê?! Pode ser que não tenham consciência do que fazem?!
Obrigado, pá, não me tinha lembrado desta. Mas, a situação ainda piora, a minha intranquilidade aumenta: em vez de um dilema, passo a ter um trilema para resolver.