Falhar no jogo do título


Quando o árbitro apitou para o início do clássico, três equipas ainda podiam ser campeãs: Benfica, Porto e Sporting. Se o FC Porto ganhasse na Luz, ultrapassava o Benfica e conquistava a pole position. Se o Benfica vencesse, teria o tão falado penta ao alcance da mão. Se empatassem, o Benfica manteria a liderança mas…


Quando o árbitro apitou para o início do clássico, três equipas ainda podiam ser campeãs: Benfica, Porto e Sporting.

Se o FC Porto ganhasse na Luz, ultrapassava o Benfica e conquistava a pole position. Se o Benfica vencesse, teria o tão falado penta ao alcance da mão. Se empatassem, o Benfica manteria a liderança mas teria deixado fugir a oportunidade de conquistar na sua casa uma vantagem confortável sobre o Porto, desiludindo os seus adeptos.

Mas o Sporting também ‘jogava’ na Luz, ainda que por fora. O resultado que objectivamente lhe daria mais jeito seria uma derrota do Benfica – pois ficaria a depender apenas de si próprio para chegar ao 2º lugar. Na verdade, se ganhasse o dérbi de Alvalade contra os encarnados, na penúltima jornada, e vencesse os jogos que lhe faltavam, o Sporting seria 2º. E uma escorregadela do Porto até lhe poderia dar o título.

Tendo em conta o modo como decorreu o campeonato até aqui, julgo que o Porto será um justo campeão. Nas derrotas que sofreu, contra o Paços de Ferreira e o Belenenses, foi muitíssimo superior – ao contrário do Benfica, que ganhou em Setúbal num jogo que deveria ter empatado ou mesmo perdido.

Além disso, o Benfica foi muito feliz no modo como pontuou nalguns encontros. Empatou na Luz com o Sporting com um penalti nos descontos, venceu o Belenenses no Restelo com um livre de Jonas no último lance do jogo, ganhou ao Setúbal com um penalti assinalado ao minuto 91.

E há dois anos sucedera o mesmo. O Benfica andou semanas a fio taco-a-taco com o Sporting, bastando-lhe um simples empate para perder o campeonato, mas no fim dos jogos surgia sempre um golo salvador. Por isso escrevi na altura: “Deus é vermelho”.

Inversamente, não me lembro de nenhum jogo em que o Benfica tenha deixado fugir pontos nos momentos finais… até ao clássico de ontem.

Poder-se-ia dizer que as vitórias do Benfica no fim dos desafios não resultavam da felicidade, antes eram o corolário normal de jogos que o Benfica dominara totalmente, marcando no fim como podia ter marcado no meio. Mas a verdade é que o Porto dominou totalmente o Paços de Ferreira e o Belenenses, e perdeu ambos os jogos. E o Benfica venceu em Setúbal depois de sido dominado pelo adversário durante toda a segunda parte.

O mérito do Benfica até aqui fora outro: não se ter deixado ir abaixo em momentos decisivos. E ter mantido a vela do penta acesa mesmo quando parecia arredado do título. E com essa mentalidade foi conquistando paulatinamente terreno ao Sporting e ao Porto, ao ponto de chegar a este clássico numa posição de liderança que há três meses parecia impensável.

No jogo de ontem, porém, tudo saiu ao contrário ao Benfica. Sofreu o golo da derrota no fim, fez as substituições erradas, não foi feliz. Mas nem tudo está decidido. Já se viu que o Porto não é invencível. E, quanto ao 3º lugar do pódio, o Braga tem feito por merecê-lo, com goleadas.