Se Lula aceitou ser corrompido temo que nunca chegaremos a saber. O que desde já podemos afirmar é que sobre o actual presidente Michel Temer pendem acusações de corrupção mais sólidas do que as que levaram à prisão de Lula ou ao impeachment de Dilma.
O ex-presidente da República e principal candidato a vencer as próximas eleições no Brasil foi condenado a 12 anos de prisão num processo em que a justiça brasileira decidiu acelerar as decisões não dando a possibilidade, inscrita na lei, de aguardar os recursos em liberdade. Denominaram-no como “execução provisória da pena”. Motivo de ainda maior horror para todo e qualquer democrata foi o crescendo de declarações radicalizadas das mais altas patentes militares no sentido de pressionar a decisão de prisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal.
Este são os contornos de uma decisão política.
Não é difícil de imaginar que um Lula-corrupto, que se dedicasse a viver o resto da sua vida à sombra do produto do roubo contaria com militares e juízes para garantir a sua reforma dourada, como tantos outros oligarcas a viver no Brasil. Mas não. Lula não abdicou de denunciar o golpe que levou Temer – o presidente em que ninguém votou – ao poder e aparecia como o mais provável futuro vencedor das eleições presidenciais no Brasil, coisa que a oligarquia brasileira – branca, velha, misógina, rica e minoritária – entendeu não permitir. As formas de combate e ódio a Lula não são novas nem surpreendem. Cresce a esperança de reinstaurar o sistema feudal dos coronéis e fazendeiros. Seja de uma forma lenta (com Temer ou equivalente) ou acelerada com Bolsonaro.
As imagens e discursos que nos chegam dos momentos antes da sua prisão, correram o mundo e farão história. Num momento em que os assassinatos políticos voltaram a ser prática corrente no Brasil, o ódio a Lula deve-nos fazer temer pela sua vida dentro da cadeia.