As Honduras estão reféns dos ânimos instáveis norte-americanos, que umas vezes oferecem dinheiro em ajuda humanitária e agradecem o apoio diplomático no plano internacional, e, noutros momentos, as condenam por permitirem correntes de drogas e imigrantes que partem do empobrecido país sul-americano na direção dos Estados Unidos. Esta semana, Tegucigalpa encontra-se no mal-me-quer diplomático do presidente americano. No final de fevereiro, porém, estava no reverso da medalha. Para um país cujo PIB rondou no ano passado os 21 mil milhões de dólares – um décimo, sensivelmente, do português, apesar de a população ser quase a mesma – as oscilações da simpatia norte-americana são temas de preocupação nacional.
Ignorando as grandes manifestações contra um aparente golpe eleitoral à mão do atual presidente hondurenho, a embaixadora americana nas Nações Unidas, Nikki Haley, visitou a capital Tegucigalpa para agradecer o voto das Honduras contra a moção com que o mundo, quase em uníssono, condenou os Estados Unidos por reconhecerem Jerusalém como a capital de Israel. Apenas oito países se alinharam com os Estados Unidos no voto, contando já com Israel e uma série de pequenas nações no Pacífico. As Honduras e a Nicarágua foram os únicos países na América Latina a fazê-lo e, embora ambos tenham grandes populações evangélicas, têm também uma ligação vital de ajuda financeira estabelecida com Washington.
As Honduras receberam há dois anos 126 milhões de dólares, em parte também para combaterem os seus poderosos cartéis de droga. No próximo ano, todavia, essa quantia deve cortar-se pela metade. Nikki Haley, na sua campanha de agradecimento, sugeriu que o voto favorável no caso de Jerusalém pode alterá-lo. “Esse será sempre um dado a que podemos regressar e dizer: ‘sabem que mais? Eles estiveram do nosso lado naquele assunto do voto de Jerusalém’”, afirmou Haley no fim de fevereiro. Na semana anterior, porém, Trump ameaçara cortar no mesmo financiamento, num alerta pelo Twitter.
Assim que Haley abandonou a capital hondurenha, a embaixada norte-americana foi apedrejada pelos manifestantes que há meses protestam intermitentemente – e violentamente – contra a reeleição do presidente Juan Orlando Hernández, em novembro. Os observadores enviados pela União Europeia e Organização dos Estados Americanos documentaram várias irregularidades e defendem novas eleições, mas o presidente rejeita-as. Desde novembro morreram mais de 30 pessoas nas ruas hondurenhas.