No dia 4 de outubro de 1957, a União Soviética enviou o primeiro satélite para fora da Terra, começando assim a corrida espacial. Em 2017, 60 anos depois, realizou-se uma reunião internacional para saber o que se poderia fazer com tanto lixo espacial acumulado. Desde o envio do Sputnik tinham sido realizados, até à data dessa reunião, 5250 lançamentos espaciais. À volta do planeta rodam em órbita cerca de 750 mil pedaços de lixo espacial com tamanho superior a 1 cm. Esses objetos circulam a uma velocidade de 40 mil quilómetros por hora, o que, tendo em conta a fórmula da energia cinética, em que a energia é igual à massa vezes o quadrado da velocidade, faz com que até as partículas mais pequenas tenham a energia cinética equivalente à explosão de uma granada de mão.
Mas a situação inventariada em 2017 ainda era mais grave: 18 583 objetos, registados a 1 de março de 2017, têm um tamanho suficiente para provocar um acidente espacial que poderá destruir foguetões, veículos espaciais, satélites e estações espaciais em órbita. O perigo é tão grande que estes pedaços maiores que circulam no espaço são vigiados em permanência pelos radares dos Estados Unidos da América, Rússia, China, França e Japão.
A anunciada queda da estação espacial chinesa Tiangong-1, lançada em 2011, nos próximos dias, em sítio da Terra ainda desconhecido, devido à perda de controlo dos operadores chineses, vem apenas aumentar o nível de alarme com estas situações.
A estação foi lançada a 29 de setembro de 2011. A 16 de junho de 2012, uma nave transportando três taikonautas (astronautas ou cosmonautas chineses) conseguiu amarar com um foguetão à estação, onde trabalharam mais de dez dias. A 21 de março de 2016, a China perdeu o contacto com a Tiangong-1; a 14 de setembro de 2017, as autoridades chineses anunciam que o aparelho vai despenhar-se na Terra, provavelmente até ao fim de 2017; atualmente, a sua entrada no espaço está anunciada para um intervalo temporal entre hoje e o dia 9 de abril.
A Tiangong-1 tem 10 metros de comprimento e pesa cerca de 8500 quilos. Quando cair é previsível que 20 a 40% da massa do satélite não seja destruída na reentrada na atmosfera e possa cair na Terra.
Embora haja uma hipótese em 3200 de atingir a cabeça de alguém, a verdade é que a zona onde podem cair os destroços é bastante vasta: encontra-se entre o paralelo 43 norte e o 43 sul, podendo atingir Portugal, já que abarca a Europa do sul, a maior parte dos EUA, toda a África, a maior parte da América do Sul, grande parte das zonas mais populosas da Ásia e quase toda a Oceânia.
Cenários de catástrofe Em 2009, o satélite russo Kosomos-2251, que estava desativado, colidiu com o satélite Iridium 33, naquela que foi a primeira colisão de satélites e outros objetos espaciais a hipervelocidade. A explosão, extremamente violenta, deixou a pairar no espaço milhares de pequenos pedaços de satélite. Este acontecimento alertou os cientistas para um cenário previsto em 1978 por Donald Kessler, conhecido por síndroma de Kessler, em que um choque de satélites provoca uma reação em cadeia que destrói grande parte dos satélites em órbita – uma reação que o grande público conhece por ser uma das cenas do filme de Hollywood “Gravity”.
Embora esse cenário seja pouco provável, os cientistas já inventariaram uma quinzena a uma trintena de satélites que devem ser colocados fora de órbita com prioridade, dado o potencial destrutivo que podem ter pelo seu tamanho.
Já em 22 de dezembro de 2007, a ONU aprovou uma resolução que obrigava à desorbitação de todos os satélites no fim da sua vida útil. Mas como não foi prevista nenhuma sanção para quem não o fizesse, a resolução ficou por um lindo discurso de boas intenções.
Para além da falta de coerção legal, há também um outro problema: ainda ninguém inventou um método seguro para correr com o lixo do espaço. Em 6 de dezembro de 2016, o Japão lançou um satélite experimental para, entre outras coisas, limpar esses detritos espaciais, o Kounotori-6. Este satélite era munido de um fio de alumínio de 700 metros, preso a um peso de 20 quilos, que devia conseguir por ação eletromagnética tirar velocidade aos dejetos espaciais e empurrá-los para órbitas mais perto da Terra, para que fossem destruídos na reentrada na nossa atmosfera. Infelizmente, isso não aconteceu: “Pensamos que o fio não foi atirado. Foi uma desilusão perceber que terminámos a missão do satélite sem conseguir concretizar uma das suas principais missões”, declarou Koichi Inoue, o responsável pelo projeto. Se este ensaio tivesse tido sucesso, a ideia era replicá–lo em 2020 com um fio que poderia ter 10 mil metros.
Apesar deste falhanço, há outros projetos em curso. Está previsto para 2018 o lançamento de uma espécie de satélite de recolha de lixo. A missão RemoveDebris, planeada pelo centro espacial da Universidade de Surrey, em Inglaterra, prevê enviar um veículo espacial com o tamanho e o aspeto de uma pequena máquina de lavar roupa para caçar e tirar de órbita satélites e pedaços de lixo espacial.
Esta espécie de camião do lixo do espaço será munido de três tecnologias: um cordel para recuperar grandes engenhos, um arpão e uma tecnologia que força a desorbitagem. “A RemoveDebris será uma das primeiras missões no mundo neste domínio. Trata-se de tecnologia que nunca foi testada no espaço até agora”, congratula-se o prof. Jason Forshaw, diretor do projeto.
Para além da tentativa japonesa falhada e desta a ser lançada este ano, há outros projetos em marcha para tentar resolver o difícil problema de um peso superior a 7500 toneladas de lixo no espaço.
O problema é bastante mais perigoso do que parece à partida: basta dizer que em 2016, um vestígio de tinta que viajava no espaço rachou uma janela da Estação Espacial Internacional, podendo, se a massa fosse maior, colocar em perigo a continuidade da missão da estação no espaço.