Kluivert. Só de ouvir o nome, qualquer amante do futebol dos anos 90 e inícios de 2000 se arrepia. Foi dele, de Patrick Kluivert, um imberbe adolescente de 18 anos, o golo que deu a Liga dos Campeões 94/95 ao Ajax, a cinco minutos do fim da final contra o todo-poderoso AC Milan, que um ano antes tinha arrasado o Dream Team de Johan Cruyff (4-0). Patrick Kluivert viria a deixar legado no gigante holandês, mas também no próprio Milan e no Barcelona, além da seleção holandesa, onde foi astro.
Pois bem: hoje, Portugal ontem teve a honra de reencontrar o apelido. Mas só o apelido, pois Patrick está retirado dos relvados desde 2007. É o seu filho mais novo, Justin, que está também a começar a dar cartas no futebol e que, com os mesmos 18 anos que o pai tinha quando chegou à alta roda, foi chamado por Ronald Koeman para a seleção principal da Holanda pela primeira vez.
No Ajax, como o pai, Justin é fulcral: soma 30 jogos e oito golos, que acrescenta aos 20 jogos e dois golos já conseguidos na época passada. Este Kluivert, porém, não é ponta-de-lança: é um extremo, predominantemente a jogar sobre a faixa esquerda (embora destro), muito vertical, rápido e tecnicamente muito bom, sendo baixinho para os padrões atuais (1,72 metros; o pai, por exemplo, tinha 1,88).
Apesar da tenra idade, Justin já há algum tempo vem sendo associado a vários tubarões europeus, com o Barcelona à cabeça. A presença na seleção principal da Holanda e um final de temporada forte no Ajax podem dar o mote para o salto – precoce… ou talvez não, a julgar pela carreira do pai.
Dos maldini a rivaldo e rivaldinho Ao longo da história, muitos foram os exemplos de pais e filhos que conseguiram fazer carreiras bem-sucedidas no futebol. O caso mais flagrante talvez seja o de Cesare e Paolo Maldini, ambos nomes históricos da defesa do AC Milan e do futebol italiano. Neste caso, o clã ainda pode vir a ganhar mais força, pois os filhos de Paolo, Christian (21 anos) e Daniel (16 anos) são igualmente jogadores à procura do lugar ao sol.
Rapidamente o adepto comum se lembrará de casos como Peter e Kasper Schmeichel, Mazinho e os irmãos Thiago e Rafinha Alcântara, Danny e Daley Blind, Johan e Jordi Cruyff ou Arnor e Eidur Gudjohnsen, que têm a particularidade de ter jogado juntos pela seleção da Islândia, com o filho a substituir o pai num particular frente à Estónia, em 1996. Em Portugal saltam à memória os casos de João Vieira Pinto e Tiago Pinto ou António André e André André, este ainda ao serviço do FC Porto. Mas também de Bebeto e Mattheus Oliveira, médio cedido pelo Sporting ao Vitória de Guimarães, ou Rivaldo e Rivaldinho, que passou fugazmente pelo Boavista em 2015/16 e hoje alinha no Levski de Sófia, da Bulgária – aqui, pai e filho também chegaram a jogar juntos e até a marcar no mesmo jogo, quando o antigo Bola de Ouro atuou pelo Mogi Mirim, clube do qual era simultaneamente o presidente.
Simeone, weah e muita paciência Por estes dias, Justin Kluivert é uma das “crias” de futebol mais excitantes do panorama mundial. Mas não é a única – longe disso. Em Itália, o apelido Chiesa também começa a ter imenso destaque… outra vez. Enrico Chiesa foi um ponta-de-lança italiano que fez nome especialmente na Sampdoria, no Parma e na Fiorentina, sendo internacional em 17 ocasiões (sete golos). E é precisamente na Fiore que o filho vai despontando: Federico tem 20 anos, é extremo e foi chamado agora por Luigi Di Biagio, selecionador interino de Itália, para os particulares com Argentina e Inglaterra.
E há mais por explorar na Fiorentina. Há igualmente um Simeone a explodir: Giovanni Simeone, filho de Diego Simeone. Esse mesmo, o intempestivo treinador do Atlético de Madrid, um dos grandes nomes da história recente do futebol argentino – conhecido pela dureza, muitas vezes excessiva, mas também pela voz de comando no meio-campo e pelos inúmeros sucessos conseguidos quer pela seleção (onde fez 106 jogos), quer pelos clubes, com destaque para Lazio, Sevilha, Inter de Milão e Atlético de Madrid.
Giovanni tem 22 anos, é avançado e começou a dar nas vistas no River Plate e no Banfield, ainda na Argentina. No verão de 2016 partiu para Itália e brilhou no Génova, transferindo-se no verão passado para Florença por 15 milhões de euros. Nascido em Espanha, tem também nacionalidade argentina e italiana. É internacional jovem pela Argentina, mas ainda pode escolher por que país jogar a nível absoluto.
Zidane, o Zinédine, foi um dos melhores jogadores da História. Pela França, pela Juventus ou pelo Real Madrid, ganhou tudo o que havia para ganhar, maravilhando os adeptos da modalidade por todos os cantos do mundo. Hoje treinador do Real Madrid, é igualmente bem–sucedido e tem quatro rebentos dispostos a lutar para lhe seguir as pisadas.
Enzo, médio, foi lançado pelo pai num jogo da Taça do Rei na época passada e até marcou, mas acabou por decidir fazer o seu caminho longe da asa protetora. Aos 22 anos assinou pelo Alavés, tendo entretanto já saído para o Lausanne, da Suíça. Luca, de 19 anos, é o terceiro guarda-redes do plantel merengue, aguardando ainda pela estreia oficial. Théo tem 15 anos, alinha nas camadas jovens do Real e muitos têm sido os relatos a dar conta de uma qualidade invulgar para um médio desta idade. Élyaz tem apenas 12 e também atua na formação blanca.
Nas últimas três semanas, um novo fenómeno começou a emergir em Paris: Timothy Weah. Como o nome indica, o jovem avançado de 18 anos é filho de George Weah, até agora único Bola de Ouro africano, com história feita principalmente no Monaco, PSG e AC Milan – e recentemente eleito presidente da sua Libéria natal. Timothy fez as duas primeiras aparições pela equipa principal do PSG no início deste mês e de imediato foi convocado para a seleção principal dos Estados Unidos, meses depois de ter feito um hat-trick no Mundial de sub–17 – o primeiro americano a conseguir tal feito numa prova deste nível.
No nosso campeonato, é a família Paciência que vai agora dominando o plano mediático. Domingos foi uma das referências lusas na arte de superar os guarda-redes contrários na década de 90, tendo marcado uma era no FC Porto. Hoje vê o filho mais velho, Gonçalo, a tentar imitar os seus passos. Depois de passagens relativamente discretas por Académica, Olympiacos e Rio Ave, o possante ponta-de-lança mostrou grande evolução na primeira metade desta temporada ao serviço do Vitória de Setúbal (11 golos em 25 jogos, que lhe valeram mesmo a estreia pela seleção principal em novembro), conquistando o direito de regressar ao clube de sempre em janeiro. Para já, ainda não marcou em sete aparições, mas a boa exibição no clássico com o Sporting, no início do mês, deixou boas perspetivas para o futuro. E ainda há outro Paciência a rebentar: Vasco, o irmão mais novo, tem 17 anos e já vai evidenciando também os dotes de goleador nos juniores dos dragões. Porque filho de peixe sabe nadar – na maioria das vezes.