Manuel Reis. De comissário de bordo a rei da noite

Manuel Reis. De comissário de bordo a rei da noite


O fundador do Frágil e da Lux Frágil morreu aos 71 anos


A notícia foi avançada por João Soares e apanhou todos de surpresa. Morreu Manuel Reis, o histórico empresário da noite que fundou o Frágil no Bairro Alto, e o Lux Frágil, em Santa Apolónia, entre tantas outras casas, como o restaurante Bica do Sapato ou a loja Atalaia.

Manuel Reis ficará para sempre como um dos grandes responsáveis pela mudança do Bairro Alto. Com a abertura do Frágil, inaugurou-se uma nova forma de viver a noite lisboeta, onde cada um fazia o que muito bem entendia sem estar preocupado com o que outros pensavam. Por lá passaram ilustres figuras das artes, da moda, da cultura e do espetáculo. António Variações, Rui Reininho, João Botelho, Eduardo Prado Coelho, Vicente Jorge Silva, Miguel Esteves Cardoso, Alexandra Lencastre, Anamar,  entre tantos outros, marcavam presença com alguma regularidade. “Era um lugar onde qualquer coisa virava um acontecimento, onde tudo era especial. O Manuel Reis foi um homem que investiu na cultura em Portugal. Passava-se tudo ali: eu fiz um casamento à porta do Frágil. E ainda estão casados e têm três filhos”, dizia Margarida Martins ao SOL, e, 11 de março de 2016,, a carismática porteira do bar que hoje é presidente da Junta de Freguesia de Arroios, Lisboa. Também ao SOL, Catarina Portas, ex-jornalista e irmã de Miguel e Paulo Portas, fundadora das lojas A Vida Portuguesa, definia assim a importância do Frágil: “Foi a primeira vez que fomos modernos e cosmopolitas à noite. Ali tudo era surpresa, novidade…”. “No Frágil houve de tudo: namoros, casamentos, traições, mortes… Era uma sala de estar de amigos. Havia uma grande excitação no ar, era um país que era novo e passava por ali. Havia urgência de viver”

Manuel Reis que começou a sua vida como assistente de bordo da TAP, dedicar-se-ia mais tarde à venda de antiguidades tendo depois aberto a loja Atalaia. A seguir ao Frágil investiu com os sócios no Pap’Açorda, na Rua da Atalaia, que fechou há poucos anos, tendo transferido o restaurante para o Mercado da Ribeira.

Mas é em 1998, ano da Expo, que Manuel Reis faz a sua obra de arte: o Lux Frágil. Quase a fazer 20 anos, o Lux tornou-se uma referência a nível internacional, recebendo grandes nomes da cena da música eletrónica e não só. Prince ficou a fazer umas gracinhas no espaço, deixando os presentes em êxtase. Ao lado do Lux haveria de abrir o restaurante Bica do Sapato, que teria como sócio minoritário John Malkovich, embora se diga que também o era da discoteca.

Mais recentemente abriu o Rive Rouge, paredes meias com o Pap’Açorda, no Mercado da Ribeira, um bar que se pretendia ser uma antecâmara do Lux.

Manuel Reis praticamente deixou de aparecer nos últimos tempos, pois a doença já estava a dar sinais. Os empregados do Lux receberam ontem ao final do dia uma comunicação para se apresentarem hoje na discoteca, mas não sabiam a razão de tal encontro. A morte de Manuel Reis deixa a noite de Portugal bem mais pobre, e muitos temem pelo fim de uma casa conhecida a nível mundial.

João Soares, que deve ter sido o primeiro a dar a notícia no seu Facebook, disse sobre Manuel Reis: “Era alguém de bom gosto, sensibilidade, talento raro. A quem a cidade de Lisboa deve uma obra notável. Tive a honra de o ter sempre como apoiante”.