Fake news: culpa é dos ignorantes


Se não são as fake news e as redes sociais que ganham as eleições, o que leva as populações a elegerem cada vez mais políticos fora do sistema?


No “Público” de ontem, João Miguel Tavares diz as primeiras palavras com bom senso que ouvi, nos últimos tempos, sobre a polémica que envolve o Facebook, a Cambridge Analytica, a fuga de dados pessoais dos utilizadores desta rede social e a suposta manipulação de resultados eleitorais. Resumindo o seu artigo numa frase: “O Facebook ganha tanto eleições como a televisão, a rádio ou os jornais.” Obviamente que JMT tem toda a razão.

Mas se, por um lado, sabemos que o Facebook, por si só, não ganha eleições, não adianta ignorarmos este facto: o populismo de extrema-direita cresce a uma velocidade vertiginosa em todo o mundo ocidental, com um especial enfoque em vários dos países nossos companheiros europeus. Felizmente, fruto dos nossos brandos costumes, Portugal ainda continua a ser uma salutar exceção – o que não nos garante que num futuro próximo não venhamos a padecer do mesmo problema.

Perante este cenário, a pergunta que nos devemos colocar é a seguinte: mas se não são as fake news e as redes sociais que ganham as eleições, o que leva as populações a elegerem cada vez mais políticos fora do sistema e com um discurso baseado no ódio e na desinformação? Esta pode até ser uma pergunta complicada, mas que se responde de forma bastante simples: a culpa é da ignorância, e não das redes sociais. Sejamos sinceros, é preciso ser um completo ignorante para não conseguir distinguir uma notícia oriunda de um site de fake news de uma notícia divulgada por um órgão de comunicação social credível. Vou até mais longe e digo que é quase impossível que uma pessoa informada e leitora usual de boa comunicação social caia na esparrela de acreditar numa fake news. Por outras palavras, quem se deixa influenciar por estratagemas como os da Cambridge Analytica não são as pessoas informadas e cultas, mas antes cidadãos que vagueiam pelas redes sociais e que não têm a mínima preocupação de consumir informação de qualidade, sendo, obviamente, altamente vulneráveis a este tipo de esquemas. Mas que também são, de igual modo, vulneráveis a um discurso populista que pode ser difundido por qualquer meio de comunicação ou propaganda.

Atacar o Facebook e as fake news, culpando-os pelo apogeu do populismo, é preocuparmo- -nos com o superficial sem combatermos aquilo que é verdadeiramente substancial. Ou seja, o que devia preocupar-nos verdadeiramente é a quantidade de pessoas que deixaram de consumir comunicação social de qualidade, que não têm qualquer tipo de literacia política e que não incutem nos seus filhos o gosto pela informação e pela discussão de ideias. Estas pessoas é que são as verdadeiras causadoras do populismo.

A esta altura, o caro leitor deve estar a perguntar-se: então e o que podemos fazer? Antes do mais, é preciso sensibilizar as pessoas para que nem tudo o que leem nas redes sociais é verdade; depois, é necessário tomar uma atitude para que pelo menos as gerações mais novas saiam das escolas com uma maior literacia política e com muito mais hábitos de consumo de boa comunicação social. Talvez isto não seja o suficiente, mas certamente que já poderia ajudar alguma coisa.

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