Quanto mais alto se sobe, maior a queda… ou melhor a onda!


Indiferente às polémicas dos “notáveis”, a pacata vila piscatória da Nazaré viu-se nas bocas do mundo à custa da afamada Onda da Praia do Norte, que o canhão submarino origina


Reza a lenda que D. Fuas Roupinho, almirante de D. Afonso Henriques, invocou o auxílio da Virgem da Nazaré quando, a cavalo, perseguia um veado – o diabo disfarçado – e se viu à beira de um precipício: o veado despenhou-se, o cavalo estacou, o nobre cavaleiro respirou de alívio e, em ação de graças, mandou erigir a capela que hoje dá pelo nome de Ermida da Memória. A lenda é linda, os historiadores (obviamente) não a subscrevem, a capela está lá, no Sítio da Nazaré.

Bons tempos aqueles em que uma invocação ao divino resolvia problemas, por mais bicudos que fossem, como era a rocha onde o cavaleiro se susteve. Se assim fosse, por estes dias, Durão Barroso (DB) estaria livre da profunda desconfiança que sobre ele impende após ter cessado mandato como presidente da Comissão Europeia e a seguir ser contratado pelo famoso – não por bons motivos – Goldman Sachs, banco de investimento abutre. Foi DB à caça de um esplêndido emprego e logo lhe saíram ao caminho uns tantos diabos em figura de gente – o último terá sido Emily O’Reilly, a provedora de Justiça Europeia. Coube a DB manifestar profunda inquietação e lastimar-se pelo que considera “um ataque político pessoal pouco velado”. Uma aflição que parece não ter fim. Que o diga o amigo e correligionário Passos Coelho, a quem de nada adiantou ter cessado funções de primeiro- -ministro, ter aceitado ficar no parlamento a ouvir das boas e, quando lhe arranjam um esplêndido emprego, caem-lhe em cima desaustinados ataques: ele apenas quer ser professor catedrático convidado! E não o deixam em paz! E como não há duas sem três, o ex-secretário- -geral do PSD, Barreiras Duarte (BD), está a ser investigado pelo DIAP, segundo informação do Ministério Público, por alegada falsa informação curricular. BD ter-se-á enganado quando declarou ter sido professor visitante numa universidade americana, apenas isso. Isso que valeu para o mestrado na Universidade Autónoma de Lisboa (UAL) e teria sido relevante para o processo de doutoramento em curso. A UAL diz que vai investigar. Atribulações de quem se vê guindado a altos voos. Só falta quem nisto veja obra das esquerdas conluiadas. No mais, minudências da ética…

Indiferente às polémicas dos “notáveis”, a pacata vila piscatória da Nazaré viu-se nas bocas do mundo à custa da afamada Onda da Praia do Norte, que o canhão submarino origina. De centro de veraneio e animação sazonal, a vila, hoje, não conhece sossego. No imponente promontório do Sítio cruzam-se gentes e línguas das mais variadas. É permanente a romaria para o vetusto Forte de São Miguel Arcanjo (farol), miradouro privilegiado para o mar da Praia do Norte, mesmo quando não há ondas. Como compensação pode ver-se uma excelente exposição de fotografias da famosa onda, de embasbacar! Abrigada das nortadas, a Praia do Salgado estende-se aos pés da vila, extenso areal onde fica o estendal do Museu do Peixe Seco, museu vivo: ali andam atarefadas mulheres das sete saias, a dar volta ao peixe. Andam ali e por todo o lado, como manda a tradição. De inverno aconchegadas nos xailes traçados e nos cachenés. Sem o menor embaraço perante as pranchas e os surfistas.

 

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