Marcelo: tolerância zero para fogos catastróficos


António Costa sabe que mais um verão dramático lhe pode custar o lugar. É esse o foco de preocupaçãodo primeiro-ministro, cujo governo tem uma falha enorme na área social. Isto enquanto o CDS está em alta mediática e no PSD continuam frustradas tentativas de assassinato político


1. O enorme zelo e empenho posto pessoalmente por António Costa e o governo na limpeza das zonas florestais e a disponibilidade para contratar meios suplementares por ajuste direto se for preciso (tudo a mata-cavalos) tem a ver sobretudo com sobrevivência política.

Fino como é, António Costa sabe melhor que ninguém que a repetição de algo parecido com uma das grandes catástrofes do ano passado levará o Presidente da República a responsabilizá-lo e a cercá-lo até uma demissão, como fez com Constança Urbano de Sousa.

Costa está hoje na primeira linha de responsabilidade pelo bem ou mal que vier a acontecer e não é a circunstância de ter nomeado Eduardo Cabrita para a Administração Interna que o poderia salvar em caso de problemas graves.

Num panorama político relativamente estável, o que pode matar politicamente Costa e o seu governo são factos supervenientes e inesperados, como outro incêndio catastrófico, uma falha enorme em mais uma área de segurança ou um escândalo político-financeiro que não desse hipótese de fuga à responsabilidade. Coisas desse género teriam um efeito devastador. Mais até do que uma súbita degradação do contexto económico internacional, em relação à qual haveria sempre argumentos desculpabilizantes.

Dois anos depois de ter sido eleito, Marcelo é, mais do que nunca, o homem-forte do país e vai gerindo tensões e distribuindo louvores como quer, mantendo uma pressão suave no governo, nos partidos que o sustentam e na oposição. Ainda por cima usando como quer a comunicação social.

2. Vieira da Silva acumula asneiras. Há dias, a SIC noticiou o grave imbróglio criado por uma decisão de rever a forma de pagamento de pensões e subsídios a pessoas incapacitadas e a cargo de outras. A situação gerada priva do dinheiro gente necessitada durante largos meses, enquanto não se desbloqueia o problema burocrático que envolve tribunais e Ministério Público, outros modelos de ineficácia. Vieira da Silva é o campeão dos equívocos que prejudicam os mais indefesos. Além disso, ele é Raríssimas, ele é familiares e amigos por todo o lado, ele é estudos e conversa da treta que não leva a nada. Ora, a única coisa que se lhe pede é que ponha os serviços a funcionar, pois os trabalhadores da sua área são competentes e, normalmente, atenciosos. Mas chega-se ao ponto de esperar três meses para conseguir uma reunião na Caixa Nacional de Pensões ou na Segurança Social. Neste tempo que é uma das janelas temporais possíveis para remodelar, António Costa bem podia despachar este ministro, outrora um dos mais aguerridos socráticos.

3. O congresso do CDS (o PP já era) foi um sucesso. Assunção Cristas e a sua equipa tiveram um magnífico êxito mediático, deixando embevecidos comentadores e jornalistas. Estão em regra convencidos de que Portugal e Lisboa são a mesma coisa e que Cristas pode repetir no país o que fez na capital, nas autárquicas. Politicamente, o partido tornou-se mais aberto, mais dinâmico, mais jovem e menos convencional. Cristas manobrou como quis e neutralizou potenciais rivais como Nuno Melo e Mota Soares, aos quais ofereceu as cadeiras de sonho de Bruxelas como eurodeputados. Tudo acabou num clima de grande unidade e festa em jeito de concerto musical, contrastando com o que se passou no PSD. O PS marcou presença no fim com uma equipa mais forte do que a que tinha visitado os sociais- -democratas, o que foi interpretado como um sinal de maior consideração pelo CDS do que pelo PSD por setores deste partido hostis a Rio.

4. Depois do próprio Rui Rio, de Salvador Malheiro e de Elina Fraga, foi a vez de Feliciano Barreiras Duarte ser alvo de uma frustrada tentativa de assassinato político. Isto porque o secretário- -geral do PSD mantinha no seu curriculum oficial a referência de “visiting scholar” na universidade americana de Berkeley, função para a qual foi efetivamente convidado mas da qual nunca tomou posse por, entretanto, ter sido convidado para chefe de gabinete de Passos Coelho. Ao “Sol”, que publicou a notícia, Barreiras Duarte explicou frontalmente a situação e disse que ia retificar o CV. Entretanto, logicamente, a universidade esclarecia que, de facto, ele não tem aquela condição, até porque ela pressuporia uma permanência de várias semanas em Berkeley para a qual Barreiras Duarte não tinha tempo nem meios. Já calejado pelo que lhe aconteceu no Porto, Rio não estranhou a situação. Parece estar à espera de ver qual é o próximo membro da sua equipa a ser alvo de ataque. Para dar uma ideia do que por aí vai, veja-se que no “Expresso” foi plantada uma notícia assinalando a circunstância de Arlindo Cunha, que no PSD ficará incumbido de definir a posição na área da agricultura, ser também membro do conselho consultivo da PAC (Política Agrícola Comum), que foi fundado há anos por um ministro da área e que os seus sucessores têm mantido, e muito bem.

 

Jornalista