João Almeida, porta-voz e deputado. “Há uma mudança de tática no CDS”

João Almeida, porta-voz e deputado. “Há uma mudança de tática no CDS”


O deputado desvaloriza o alegado conflito entre pragmatismo e ideologia, mas reconhece mudança tática


Quão paradoxal é para o CDS ter uma candidata a primeira-ministra com menos de 10% nas sondagens?

É tão paradoxal quanto a relação do CDS com sondagens é sempre paradoxal. Nunca o CDS teve uma história de preparação de uma eleição em que as sondagens superassem aquilo que depois veio a ser o resultado. Isso é histórico. O histórico podia não ser relevante se estivéssemos a falar de uma tradição que não tivesse a ver com esta liderança e que tivesse por confirmar nesta liderança, mas acontece que Lisboa confirmou esta tendência. As sondagens de Lisboa foram todas, então a esta distância, muito inferiores. Nós, para já, temos indicadores internos que nos dão confiança. Mas este espírito não tem a ver com indicadores: é acima de tudo uma ambição, não limitada a um determinado valor. O mais importante em sondagens não são os resultados, são as tendências. 

A sua geração na ‘jota’ foi, ao que oiço, das mais conservadoras. Com uma dinâmica mais ideológica a até radical, no sentido não pejorativo. A única posição mais conservadora que Assunção Cristas defendeu neste congresso foi contra a eutanásia. O CDS está mesmo a abraçar a pós-ideologia? 

Não é bem assim… Ainda agora, no discurso final, numa conjugação interessante, que pode também ser paradoxal entre aquilo que é a matriz mais democrata-cristã, na lógica da política de família, conjugada com aquilo que é provavelmente uma das expressões de maior modernidade do discurso do CDS neste momento, que tem a ver com a paridade. Cristas afirma que a melhor maneira de protegermos os valores da família é interpretarmos as novas formas entre a família e o trabalho e que isso permitirá, do ponto de vista do equilíbrio entre géneros, um maior equilíbrio. Isto é ir buscar a matriz ideológica de defesa da família conjugando-a com uma política de modernidade que tem a ver com o papel da mulher na sociedade.

Não há, então, uma leitura mais apaziguada ou menos evidente dos valores ideológicos do partido?

Eu não acho. Se ouvirmos o discurso do Nuno Melo quando assume a candidatura europeia, é um discurso completamente conservador, não democrata-cristão, mas conservador patriótico. Com um clara distinção de blocos entre aquilo que é uma esquerda, estando a esquerda muito mais à esquerda do que no passado do ponto de vista nacional, para uma esquerda quase do século dezanove do ponto de vista ideológico. E indo depois buscar a direita que se opõe nesse choque de blocos. Há uma matriz aí.
 

Leia a entrevista completa na edição impressa do i desta segunda-feira