Pelos sacos do lixo largados em cima da passerelle podia nem parecer. Mas quando as luzes se apagaram estava mesmo tudo a postos para o início do desfile de Dino Alves, que ao final da noite de domingo encerraria o terceiro e último dia da 50.ª edição da ModaLisboa. Assim mesmo, com as senhoras da limpeza a levarem sacos do lixo, começaria a apresentação da coleção do criador para o próximo outono/inverno, ao longo da qual o público assistiria também à desmontagem de parte do cenário.
Em "A Outra Verdade", Dino Alves foi à procura disso mesmo. "Sendo que a imperfeição é uma forma de liberdade, porque quererá o individuo ser apenas perfeito, submetendo-se a uma espécie de ditadura da perfeição e influenciando outros tantos, através dos seus perfis virtuais, a perderem a sua autênticidade, individualidade e beleza, tendo-a perdido já eles próprios também?", questiona o criador.
Daí as peças de "proporções aparentemente incorretas" os painéis com modelagem alteradas ou subvertidos, as "linhas de cintura fora do lugar habitual sugerindo uma certa imperfeição e desproporção física", para um conjunto de silhuetas disformes, distorcidas ou desproporcionadas.
Antes de Dino Alves, Ricardo Andrez, Kolovrat, Filipe Faísca e David Ferreira apresentaram no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, as suas coleções para a próxima estação fria, num dia que o tempo voltou a permitir que, como programado, começasse na Estufa Fria. Com Olga Noronha a apresentar "Uncanny". Conceito cunhado por Sigmund Freud para definir a incerteza intelectual resultante da "extinção entre imaginação e realidade".