Ode aos que ficam felizes por nós


Diariamente, sinto um apoio constante ao meu trabalho, às minhas conquistas e também às minhas falhas, mas sei que retribuo com o mesmo entusiasmo


Talvez isto seja do mais raro que há. Talvez seja o gesto de vibrar aquilo que mais me emociona. Talvez seja a capacidade de sentir uma extraordinária felicidade pelo outro o sentimento mais nobre que reconheço. É que é tão bonito quanto raro este abraço de absurda alegria por quem voa, por quem vai, porque lhe queremos o melhor. Porque o nosso bem também é ver bem.

Não me posso queixar, seria a maior ingrata se o fizesse. Diariamente, sinto um apoio constante ao meu trabalho, às minhas conquistas e também às minhas falhas, mas sei que retribuo com o mesmo entusiasmo. Não tem mal não sermos o protagonista daquela história, nem o herói ou o conquistador, porque o papel mais honroso pode ser mesmo o que o observa com um sorriso nos lábios e uma lágrima de orgulho.

Admiro quem consegue saltar da cadeira e festejar como se fosse ele no quadro de honra. Alguém que queira tanto como quem o tem, alguém que se emocione como se tivesse sido escolhido, alguém que celebre mesmo que não tinha sido convidado para a festa. Celebrar porque vê o outro crescer, sem ter de medir tamanhos consigo mesmo. Admiro quem pega no telefone só para dizer que está a fazer um brinde mas não em nome próprio, admiro quem perca o sono com o entusiasmo de ver quem gosta brilhar na gala ou na sala de jantar, admiro quem abraça com orgulho, quem levanta o seu triunfador no ar porque é tão bom ser assim, admiro quem sabe só sentir, apreciar, comemorar… assim, em segundo lugar!

Lembro-me que, quando a minha irmã comprou a viagem de ida (sem volta) para partir para a sua aventura, fiquei tão feliz por ter sentido, por inteiro, a felicidade de a ver ter aquele bilhete na mão. Era dela e eu senti-o como meu, e não te vou dizer que foi sempre assim. Não. O meu apego, a minha vontade de a ter por perto tantas vezes (a maioria delas) interferiu no sentimento genuíno e generoso que deveria exprimir. Mas desta vez foi diferente. Desta vez consegui sentir só aquela vitória tão desejada e celebrá-la da mesma forma como se eu também fosse apanhar aquele avião. Mas não somos sempre assim. Não somos sempre feitos de altruísmo e desinteresse, desapego e amor profundo. Somos mesquinhos e invejosos também, somos medrosos e merdosos quando acreditamos que a claridade dos outros ofusca a nossa.

Digo-te que fico sempre nervosa quando conto alguma grande novidade a alguém. Coloco sempre expetativas (também não o deveria fazer, eu sei) na forma como o recetor vai receber a boa nova. E não te consigo dizer como me dói sentir a falta de vibração e de contentamento do outro lado. Porra, mas porque é que ele(a) não está aos guinchinhos, como eu estaria? Porque não me abraçou, comovido(a)? Porque não está estupidamente feliz por mim? Porque haveria de se sentir ameaçado(a) com a minha felicidade? Porque é que a vida tem de ser um concurso, um desfile onde um vai na frente e o outro atrás? Mas, e contra mim falo, as pessoas expressam-se de formas diferentes. E quem sou eu para julgar a reação dos outros? Ninguém. Não tenho o mínimo direito de julgar quem quer que seja mas, como nasci em Fátima mas não nasci santa, não consigo evitar reparar. Não consigo que não me afete e só me apetece apelar:

Riam! Expressem-se! Festejem! Digam “boa, parabéns!”, qualquer coisa, nem que seja apenas um som, um gemido qualquer que exprima alguma felicidade pela felicidade alheia!

Pronto, já estou mais aliviada. Já desabafei convosco e até parece que emagreci dez quilos. Agora vou voltar a ser a menina tranquila e calma que sempre conheceram – #somostodoshistéricosdevezemquando.

 

Blogger, Escreve à quinta-feira