“Por isso me sinto como um homem do séc. xix, porque é ao passado e no passado – mas por causa do presente, com tanta mentira que caminha ao nosso lado – que, como Garrett, dirijo a interrogação: que ser é o meu se a pátria a que pertenço não está segura de possuir o seu? Como a Sofia, que tem memória longínqua de uma pátria eterna mas perdida, e não sabemos se é passado ou futuro onde a perdemos.” Alexandre Alves Costa in “Revista de História de Arte” n.o 4, 2007.
À medida que o tempo passa, também a história nos passa de modo a cair num profundo esquecimento e de maneira que das poucas coisas que restam da nossa grandiosa nação, a mais notória e importante é, sem dúvida, o património. Sem esquecer a língua portuguesa, e todo o património imaterial português, também ele de difícil preservação, mas, neste artigo, o foco é essencialmente dirigido ao património material e arquitetónico.
O património do Estado deixado ao abandono pelos sucessivos governos, como é o caso do Forte de Santo António da Barra, no Estoril, que está classificado como de interesse público e que tem sido o mais mediático, mas o mesmo se passa em todas as regiões do país. Para além disto, há mais património público e privado que tende a desaparecer e não só por culpa do Estado, mas do público em geral e das câmaras municipais, não sendo as Zonas de Especial Proteção (ZEP) e as Áreas de Reabilitação Urbana (ARU) suficientes para evitar algumas situações destruidoras da alma histórica em muitos casos, como é o caso da excessiva utilização de alumínio, que se propaga quase como uma doença, em vez da tradicional madeira, em portas ou em janelas.
Uma problemática natural do constante progresso é o desinteresse da sociedade civil pelo património quer material, quer imaterial. Resultando também do capitalismo, a necessidade de lucro e de recompensa tornou-se o principal objetivo das pessoas. E metade da população aufere apenas o ordenado mínimo e, na sua luta constante pela sobrevivência, não tem tempo para preocupações desta natureza.
É urgente a intervenção do Estado em todas as frentes já referidas. A Constituição da República Portuguesa tem materializada como tarefa fundamental do Estado a proteção e valorização do património cultural do povo português – há que praticá-las! É muito estranho, ou não, que o Ministério da Cultura não se pronuncie sobre nada do que toca ao abandono do património nacional. É também de enorme importância a sensibilização da sociedade para a reabilitação, principalmente dos intervenientes na construção civil, e para o respeito pelas recomendações expressas e convenções doutrinais.
Escreve à terça-feira