Crónica do PSD em oposição a si próprio


Dando de barato que é cedo para fazer uma análise mais fiável, a verdade é que muito dificilmente o líder do PSD, seja ele quem for, ganhará eleições a Costa enquanto este cenário económico se mantiver


Noticiava o “SOL” de 5 de Abril de 2017 num artigo de Sebastião Bugalho que, em entrevista ao “DN”, “Rio arrasa ex- -governo de Passos Coelho”.

Quem olhe para a actuação mais recente do presidente do PSD parece não conseguir encontrar-lhe evidências muito fortes de que, de há um ano a esta parte, o mesmo tenha interiorizado as suas novas funções e tenha ido além de uma tentativa em vários actos de acertar contas com a História.

Dando de barato que é cedo para fazer uma análise mais fiável, a verdade é que muito dificilmente o líder do PSD, seja ele quem for, ganhará eleições a Costa enquanto este cenário económico se mantiver.

Mas será tanto pior quanto o líder do maior partido do parlamento não se encontre com o caminho do futuro, ao invés do caminhar estes dias, desde a eleição, a olhar para o passado.

Em alguns poucos actos de Rui Rio do congresso em diante fica-nos a imagem muito forte do mesmo homem que, em Abril de 2017, entre vários outros mimos, nessa sua entrevista ao “DN” e num discurso de grande “unidade e solidariedade política” (como aquela que agora vislumbra na sua bancada), dizia do governo anterior – da maioria responsável pela eleição da bancada social-democrata que o apoiava, e também da actual bancada partidária mais votada – e segundo o mesmo artigo, que Passos e o seu governo teria tido “prolongada inação política”, “ausência de uma defesa firme do interesse nacional” e “irresponsabilidade política”.

Foi assim, segundo se dava nota, que Rui Rio descreveu os tempos da troika em Portugal, numa descrição que, segundo o referido artigo, não abonava em nada a favor de quem exercia funções de governo na altura, ou seja, o PSD de Pedro Passos Coelho – por esses dias primeiro-ministro.

Neste ínterim, entre o caminho para a presidência do PSD, passando pelas aí referidas legislativas, e o congresso, Rui Rio – o tal que já havia fechado as portas do Porto a uma ministra do governo de Santana Lopes a quem proibira de lá entrar, como se a cidade fosse sua – manteve o apetite pela imagem sebastiânica do salvador da pátria e uma certa angústia e urgência de confrontar o passado para expiar os seus demónios.

E é este passado, no que se refere ao caminho de desunidade que Rio promove, que não deixa dúvidas sobre a insolubilidade do seu carácter para o bem comum ou um fim maior.

Do pouco que se vem percebendo, num caminho que tem tanto de errático como de bizarro, os dias passam-se rejeitando qualquer caminho de genuína convergência de ideias que possa mobilizar verdadeiramente o seu partido e, diria eu, menos ainda os seus eleitores. Rui Rio, ao seu estilo que alguns apelidariam de confronto, outros de colérico e uns terceiros de, porventura, despótico, vem fazendo uma gestão destes dias virado para o tal encontro de contas com o passado do seu partido.

Muito ao gosto e estilo dos confrontos intestinos que promoveu (bem ou mal) entre, por exemplo, o seu ego e o Futebol Clube do Porto.

E que, agora, prolongou no congresso contra a anterior direcção do PSD quando indigitou uma vice-presidente que tinha promovido um processo-crime contra o todo o governo eleito e apoiado pelo PSD.

Ou por último, quando promove a líder parlamentar um deputado que, alinhado com a espuma dos tempos, tem um resultado miserável nas eleições para a presidência do grupo, mas assume o lugar na mesma.

Rui Rio, nos últimos tempos e no actual xadrez político, nada ganhou, além deste congresso, e nada aponta sobre o futuro a não ser a enorme vontade de viabilizar coisas com o PS.

O tempo o dirá mas, pela amostra junta, Costa poderá para já estar descansado.

 

Advogado na norma8advogados

pf@norma8.pt

Escreve à quinta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990