Peter Tauber está de saída por razões de saúde. Com a saída do secretário-geral da CDU, Angela Merkel resolveu escolher para o lugar aquela que, ao que tudo indica, será a sua sucessora na liderança dos conservadores alemães. Annegret Kramp-Karrenbauer tem 55 anos e é atualmente ministra-presidente do pequeno estado do Sarre, junto à fronteira com a França e o Luxemburgo. Oriunda de uma família conservadora católica, estudou Ciência Política e Direito e foi a primeira mulher a chegar ao mais alto cargo político do Sarre, depois de já ter traçado caminhos novos quando assumiu a pasta estadual da Administração Interna.
Depois de ter feito toda a sua carreira política no seu estado natal, Annegret Kramp-Karrenbauer despede-se agora do cargo e do território conhecido para se lançar à conquista do partido a nível nacional. De acordo com o Süddeutsche Zeitung, o acordo entre Merkel e Kramp-Karrenbauer estava traçado há meses, desde que se tinha percebido que Tauber, de 43 anos, não iria continuar. Num tweet de despedida intitulado «porque estou a abrir caminho para uma nova secretária-geral», Tauber fala da necessidade de ter um partido «mais jovem, com mais mulheres e mais diverso».
Chegados à entrada do quarto mandato de Merkel como chanceler da Alemanha – isto se os militantes do SPD ratificarem o acordo de grande coligação negociado pelos seus líderes com a CDU/CSU -, depois de um resultado fraco nas eleições de setembro, que abriram caminho para um impasse governamental que ainda dura, começam a ouvir-se vozes clamando mudança. Vozes que mal se ouviam quando os valores de popularidade de Merkel estavam nas nuvens, ampliam-se agora com base na derrapagem eleitoral e a ascensão da Alternativa para a Alemanha (AfD), que roubou votos ao partido na extrema-direita.
A escolha da política do Sarre é significativa nesta altura, uma indicação clara de que a líder da CDU vê nela alguém capaz de assumir o leme quando se retirar de cena – Merkel foi também secretária-geral do partido antes de chegar à liderança. Kramp-Karrenbauer tem experiência governativa em coligação, com dois acordos sucessivos com o SPD. «Podemos confiar uma na outra, mesmo quando cada uma tem a sua opinião», disse dela Merkel e confiar não é um verbo que se conjugue muito em política.
Para AKK, como é conhecida, ou mini-Merkel, de forma mais depreciativa, o seu batismo na política nacional será no congresso de segunda-feira, onde o seu nome será ratificado no cargo de secretária-geral e os delegados votarão o acordo de grande coligação com o SPD.
E tudo poderia não ter acontecido como o guião que já estava escrito. Isto se o grave acidente de viação em que AKK se viu envolvida no princípio de janeiro tivesse tido consequências maiores do que os ferimentos ligeiros sofridos pela ministra-presidente. O carro oficial onde seguia embateu num camião às quatro e meia da manhã na autoestrada a cerca de 100 km de Berlim. Estavam quase a chegar à capital depois de mais de 600 quilómetros desde Saarbrücken. Sem ligação aérea nessa noite, a ministra-presidente fizera-se à estrada com o motorista e o guarda-costas, depois da receção de ano novo da coligação no Sarre.
Mesmo assim, mesmo com o caminho aberto por Merkel, não é garantido que Kramp-Karrenbauer chegue à liderança do partido. Uma sondagem da Infratest, citada pela Deutsche Welle, colocava-a em janeiro apenas em quarto lugar entre os mais bem posicionados para assumir a presidência do partido. Thomas de Maiziere, o ministro do Interior, surgia escolhido por 37% dos eleitores, seguido pelo ministro das Finanças, Peter Altmaier, com 31%, e, finalmente, pela ministra da Defesa, Ursula von der Leyen, com 28%. AKK só conseguia 24% nessa sondagem.