A IFEMA, que organiza a ARCO Madrid, exigiu à galeria que expunha a obra “Presos Políticos na Espanha Contemporânea” , de autoria de Santiago Sierra, que a retirasse do pavilhão da galeria Helga Alvear.
A IFEMA é uma entidade pública constituída pela Comunidade de Madrid, a Câmara Municipal de Madrid, a Câmara de Comércio e Indústria e a Fundação Obra Social e Monte de Piedade de Madrid.
A Câmara Municipal de Madrid, que é dirigida por uma coligação com o Podemos, declarou que não foi sequer consultada para o efeito. Os autarcas pediram uma reunião extraordinária da direção e expressaram a sua discordância com a censura a uma obra de arte. “Como membro do IFEMA, estamos contra a retirada de qualquer obra de arte, a decisão foi tomada sem o nosso conhecimento. Pedimos uma reunião extraordinária para que se modifique a decisão. Nós estamos com a liberdade de expressão e a liberdade artística”, assinalou no Twitter a porta-voz do Podemos na capital espanhola, Rita Maestre.
Santiago Sierra, um dos mais conhecidos artistas espanhóis – foi organizador do pavilhão de Espanha na Bienal de Veneza em 2003 e em 2010 renunciou ao Prémio Nacional de Artes Plásticas –, já reagiu ao ato: “Para além da surpresa e deceção com que recebemos a notícia, consideramos que esta decisão causa um dano sério à imagem desta feira internacional e do próprio Estado espanhol”, concluindo que quem toma esse tipo de decisões, que “são uma falta de respeito em relação à inteligência do público”, confirma “a razão de ser desta peça, que pretende precisamente denunciar o clima de perseguição que estão a sofrer os trabalhadores culturais nos últimos tempos”.
Por sua vez, a IFEMA justifica a sua decisão em comunicado: “A instituição da feira tem o máximo respeito pela liberdade de expressão. Entende que a polémica criada nos meios de comunicação social pela exibição destas peças está a prejudicar a visibilidade do conjunto dos conteúdos que reúne a Arco Madrid 2018, por isso, como é sua responsabilidade, como organizadora, trata de afastar os discursos que desviem a atenção do conjunto da feira.”
A obra, composta por 24 fotografias de presos políticos espanhóis pixelizadas, pretende denunciar a repressão crescente na democracia espanhola, mostrando a diversidade das pessoas detidas. Num vídeo de apresentação da obra, o artista explica que se trata de “tornar visível a existência destes presos políticos no Estado espanhol apesar daquilo que é dito oficialmente (…) sem focalizar em nenhuma ideologia em concreto, porque se trata de demonstrar que os presos políticos espanhóis contemporâneos abarcam um amplo espetro de posições políticas, sobretudo de esquerda”.
A censura desta peça, que exibe a imagem dos presos independentistas catalães e bascos, junto com anarquistas, músicos condenados por “apologia ao terrorismo” e simples cidadãos que resolveram colocar nas redes sociais frases que não agradaram ao governo, acontece na semana que o Supremo Tribunal de Justiça confirmou a condenação a três anos e meio de prisão do rapper José Miguel Arenas, de 24 anos, conhecido como Valtònyc, por ter feito uma música sobre os casos de corrupção e desvio de dinheiros públicos que implicam a monarquia espanhola.