Não terá sido por acaso que Camões deixou a palavra inveja a fechar os Lusíadas.
Ela marca indelevelmente uma péssima característica portuguesa, embora não exclusiva.
A inveja, esse “monstro de olhos esverdeados”, na caracterização de Shakespeare, é o motor que faz mover os medíocres.
É bem conhecida essa piada da diferença entre portugueses e norte-americanos quando confrontados com a visão de um potente carro novo na garagem do vizinho.
Os norte-americanos pensarão na forma de ganharem dinheiro para comprar um igual. Já os portugueses pensarão de imediato: “Onde é que o tipo andou a roubar para comprar aquele carro?”
Vem isto a propósito de dois casos recentes.
A associação sindical dos diplomatas portugueses manifestou “completa surpresa e estranheza” pela escolha de Sampaio da Nóvoa para embaixador de Portugal na UNESCO, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
O argumento é lapidar: “Para cargos diplomáticos, escolhem-se diplomatas.”
Não interessam para nada as altíssimas qualificações de Sampaio da Nóvoa para ocupar aquele cargo específico. Maiores, certamente, do que as da esmagadora maioria dos diplomatas de carreira.
O que interessa é a defesa da confraria. No entanto, o argumento já não é válido para a situação inversa, quando diplomatas e ex-diplomatas ocupam cargos que, à partida, seguindo o brilhante raciocínio da associação, não poderiam ocupar.
O segundo caso é a acusação de “plágio” lançada pelo ex-ministro Poiares Maduro contra o atual governo, na questão da proposta de impostos europeus.
Segundo Maduro, cuja prestação no governo se pautou pela incompetência, a ideia foi copiada porque Passos Coelho já a tinha apresentado em 2015.
Esquece-se este porta-voz de não se sabe quem que ele próprio é o “autor” de um modelo de governação da RTP, o CGI, mal copiado da BBC, e cujos resultados estão à vista.
Defendendo as confrarias ou escondendo a sua incompetência, confirma-se a frase de Corneille: “Um invejoso nunca perdoa o mérito alheio.”
Jornalista