Nada lhe vai ser fácil – embora a decisão de afastar Hugo Soares seja subir um degrau para contornar as dificuldades que aí vêm. Hugo Soares não foi um bom líder parlamentar. Pior vai ser difícil. 

Independentemente de qual for o próximo líder, Rui Rio vai seguir um destino já cumprido por muitos outros líderes da oposição antes dele. As coisas vão-lhe correr mal mas, antes dele, já correram mal a António Guterres, José Manuel Durão Barroso, Manuela Ferreira Leite. Não correram mal a Sócrates enquanto ocupou esse cargo, por ter sido eleito praticamente em cima das legislativas, ter o mal-amado Santana Lopes como opositor e ter conquistado uma parte substancial do eleitorado de centro-direita. Não correram mal a Passos Coelho no início, porque apanhou Sócrates no seu estado político mais frágil. Mas correu mal a António Costa, num primeiro momento: depois de ter uma vitória histórica perante António José Seguro, Costa baralhou-se, perdeu o discurso, perdeu o momentum e conseguiu mesmo perder as eleições para a coligação Passos-Portas, o que foi a coisa mais inesperada que podia ter acontecido ao PS em 2015. Com a geringonça, Costa passou a primeiro-ministro vitorioso, mas antes de aí chegar somou derrotas.

Podemos recuar a António Guterres, cuja oposição à segunda maioria de Cavaco Silva exasperava muitos socialistas, a começar por Mário Soares, que chegou a organizar um congresso anti-Cavaco – o “Portugal que Futuro” – para tentar colmatar as falhas. A vida de Durão Barroso na oposição foi dificílima. Alguns líderes que penaram na oposição não chegaram a primeiros-ministros, como Jorge Sampaio e Marcelo Rebelo de Sousa – mas chegaram a Belém. 

O sucesso presente do governo indica que Rio vai percorrer um caminho das pedras. Mas não é o primeiro a fazê-lo e nem a vida nem a liderança da oposição são coisas lineares e absolutas.