Uma vitória caída do céu


Já foi dito e redito que a vitória da seleção portuguesa no Europeu de futsal pareceu tirada a papel químico do triunfo no Europeu de futebol. Não só porque Portugal marcou o golo da vitória depois da saída do “melhor jogador do mundo” – num caso Ricardinho, no outro Ronaldo. Mas também porque Portugal não…


Já foi dito e redito que a vitória da seleção portuguesa no Europeu de futsal pareceu tirada a papel químico do triunfo no Europeu de futebol. Não só porque Portugal marcou o golo da vitória depois da saída do “melhor jogador do mundo” – num caso Ricardinho, no outro Ronaldo. Mas também porque Portugal não foi, na final, a melhor equipa.

A minha primeira impressão foi estar a assistir a uma final de hóquei em patins entre Portugal e Espanha. Muitas vezes, Portugal era até aí a melhor equipa do torneio, a que jogara melhor, a que marcara mais golos, mas na final soçobrava perante o quadrado espanhol, frio e organizado.

Os jogadores portugueses esforçavam-se, fintavam, mas eram impotentes perante a melhor organização espanhola.

Assim sucedia no hóquei e assim sucedeu nesta final de futsal. Portugal chegou ao jogo com o rótulo de melhor equipa, mas logo se viu que a Espanha era mais organizada. Portugal marcou um golo no 1.o minuto, mas depois sofreu dois e esteve o jogo inteiro sem marcar. E só a um minuto do fim, já em desespero, empatou, forçando o prolongamento.

Nesse período, a seleção portuguesa pareceu por momentos capaz de se superiorizar à espanhola. Mas foi sol de pouca dura. Até que se deu o acontecimento milagroso: a lesão de Ricardinho. Aí, tudo mudou emocionalmente. Todos se lembraram da lesão de Ronaldo e do golo de Eder. Todos ficaram com a certeza de que, acontecesse o que acontecesse, Portugal ganharia.

E assim aconteceu.

Desde a saída de Ricardinho, a seleção portuguesa foi massacrada. Começou a não conseguir sair do seu meio-campo. A Espanha carregava e rematava. Portugal só poderia marcar mercê de algo caído do céu aos trambolhões. E sucedeu isso mesmo: uma falta de um avançado espanhol no meio-campo português, longíssimo da baliza de Espanha, proporcionou uma espécie de penálti, pois as equipas já tinham atingido o número de faltas permitido. E desse penálti salvador surgiu o golo da vitória portuguesa.

Esta vitória sobre a Espanha compensa aqueles jogos das nossas seleções em que podíamos ter ganho e perdemos.

Já tivemos seleções de futebol melhores do que aquela que ganhou o Europeu de França – e que não ganharam nada. E no futsal talvez já tenha acontecido o mesmo. O futebol é isso: um jogo onde também entram a sorte e o azar.

Como português, fiquei muito satisfeito com a vitória portuguesa. Mas reconheço que os espanhóis têm razões para se sentirem vítimas de uma injustiça. Até porque, imediatamente antes da falta salvadora que deu o golo da vitória a Portugal, um jogador português dera um toque num avançado espanhol que o árbitro podia ter sancionado – proporcionando um resultado oposto.

Festejemos a vitória. Foi fantástica! Mas não percamos a noção da realidade: como aconteceu no Europeu de França, Portugal ganhou mas não foi a melhor equipa.