O Papa Francisco conseguiu conquistar o mundo católico e o não católico. Depois de João Paulo ii, uma verdadeira pop star à escala planetária mas evidentemente conservador, Francisco conseguiu tornar o catolicismo popular e próximo das pessoas comuns. O entusiasmo dos não católicos por este Papa foi totalmente inesperado – nada o fazia prever, nem a Igreja Católica com Bento xvi tinha registado mudanças significativas.
Francisco fez mais pela popularidade da Igreja Católica no mundo do que a maioria dos seus antecessores, João Paulo ii incluído. Acontece que o catolicismo tem dogmas que nem a euforia à volta de Francisco pode travar: um deles é o casamento indissolúvel. Conheço vários divorciados católicos que sofreram na pele a recusa da Igreja em acolhê-los – nomeadamente a recusa da comunhão, que é um sacramento importante para os católicos. Em Portugal, temos no mais alto cargo do Estado alguém que, devido ao seu catolicismo profundo, recusou voltar a casar e assumir que o casamento religioso que fez se findou: Marcelo Rebelo de Sousa continua, aos olhos da Igreja, casado, embora não aos olhos do Estado. É essa a razão principal porque nunca casou civilmente com a sua namorada de décadas, Rita Amaral Cabral. É evidente que só é católico quem quer e quem quer sujeita-se aos dogmas.
Mas quando a doutrina da Igreja Católica parecia estar a abrir-se no sentido de acolher as ovelhas tresmalhadas pelo divórcio, vem o patriarca de Lisboa e faz a sugestão de os casais “recasados”, para voltarem a ser aceites pela Igreja, deverem abster-se de sexo. É incrível como o patriarca de Lisboa – que chegou ao cargo com o epíteto de “intelectual” – mostra tão pouca capacidade intelectual de olhar os novos tempos. Vendo o que Manuel Clemente está a fazer à igreja sumamente dirigida por Francisco, lamenta-se que a Igreja Católica de Lisboa não tenha dado oportunidade a outros intelectuais de ocupar o posto. Mas é a vida, como dizia o católico Guterres.