PSD: a sistemática atração do abismo


O PSD está em pé de guerra. Alguns dos recém-derrotados iniciaram uma guerra de guerrilha contra Rio que Costa e a geringonça agradecem muito


Que ninguém se engane. O PSD está em pé de guerra. Multiplicam-se manobras em véspera do congresso de entronização de Rui Rio para o fragilizar. Na realidade, passistas e santanistas (o que não quer dizer que os próprios estejam envolvidos) já instalaram um clima de guerrilha ao líder eleito, desgastando–o sistematicamente, o que evidentemente será um bónus para Costa e a coligação de esquerda. É próprio da política (e especialmente do PSD) ter os inimigos no partido e os adversários nos outros partidos.

 O ponta-de-lança desta estratégia é Pedro Pinto e a distrital de Lisboa, que conta com apoios de Carlos Carreiras e Miguel Pinto Luz, que veio a público fazer vastas exigências de vitória ao líder, apesar de ele próprio se ter especializado em perder eleições. Este tipo de guerrilha não é novo nos sociais- -democratas. Aconteceu com Manuela Ferreira Leite (com o mesmo grupo), com Marques Mendes, com Menezes, com Mota Pinto e com Balsemão. Digamos que faz parte do código genético do partido, que opta por se atirar para o abismo e autodestruir em vez de combater o adversário, unindo esforços. Preferem a vitória dos outros à dos seus. Nesse sentido, o PS é profundamente diferente e sabe estabelecer prioridades, juntando-se no que é essencial em favor da manutenção no poder ou da sua conquista. Veja-se, por exemplo, a reserva de António José Seguro desde que Costa ganhou o partido. A dignidade política é isso mesmo.

 Voltando a Rio, é de notar que a própria imprensa está a ser contaminada pelos seus oposicionistas, que fazem passar uma ideia negativa dele, tentando diminuí-lo, por exemplo, no plano cultural, como se fez relativamente a Cavaco Silva a dada altura. A peça publicada sobre Rio no “Expresso” de sábado é paradigmática, apontando virtudes e defeitos, mas enfatizando subliminarmente supostos aspetos negativos, num exercício de ativismo e não de jornalismo.

Rio não vai ter um caminho fácil até porque no ano que vem tem três eleições, duas das quais o envolvem diretamente: as europeias e as legislativas. Já as regionais da Madeira não são propriamente com ele, mas se se confirmar que o PSD pode ali perder a maioria a favor da esquerda, seria um golpe negativo altamente simbólico. Pinto Luz já veio por isso apresentar um caderno de encargos ao líder, numa carta pífia e vagamente chantagista.

 Muito do combate político de Rio terá de passar por interposta pessoa e ocorrer no parlamento, onde ele não tem assento. Daí que a escolha do futuro líder parlamentar seja um aspeto absolutamente essencial. Quando Marcelo era presidente do PSD também não era deputado e a liderança da bancada estava entregue a Marques Mendes. E, na verdade, ambos fizeram a vida negra a António Guterres, sem, no entanto, deixarem de concertar posições com o PS sempre que estavam em causa questões que se sobrepunham ao mero interesse partidário – uma atitude que certas mentalidades tacanhas de hoje não entendem. Por isso, tão ou mais relevante do que os membros da comissão política, tem importância redobrada a questão da liderança do grupo parlamentar. Outros cargos estratégicos na entourage de Rio serão o de secretário-geral e de secretários-gerais adjuntos, pois o PSD precisa urgentemente de criar uma máquina profissionalizada, deixando de ser uma espécie de repartição pública dos anos 70. Um partido sem quadros e sem propostas é meramente um grupo de assalto ao poder.

Num clima de ativa hostilidade, Rio tem o desafio de desenvolver uma estratégia que seja simultaneamente de afirmação, de autoridade política e de capacidade de chamar a si aqueles que, mesmo que não tenham estado com ele, preferirem à desforra interna o combate político e ideológico à geringonça, que continua a surpreender positivamente no campo económico, embora esteja a acumular erros no campo da política ao atacar os pequenos negócios privados como os do turismo, e a deixar degradar elementos essenciais do nosso sistema, como a Segurança Social e o Serviço Nacional de Saúde, que se está a desfazer. São esses campos sociais e da economia real que dizem diretamente respeito às pessoas, que o PSD terá de voltar a ter como referência e prioridade. Caso contrário, de nada servirá à sociedade portuguesa, que tenderá a ignorá-lo. 

Jornalista


PSD: a sistemática atração do abismo


O PSD está em pé de guerra. Alguns dos recém-derrotados iniciaram uma guerra de guerrilha contra Rio que Costa e a geringonça agradecem muito


Que ninguém se engane. O PSD está em pé de guerra. Multiplicam-se manobras em véspera do congresso de entronização de Rui Rio para o fragilizar. Na realidade, passistas e santanistas (o que não quer dizer que os próprios estejam envolvidos) já instalaram um clima de guerrilha ao líder eleito, desgastando–o sistematicamente, o que evidentemente será um bónus para Costa e a coligação de esquerda. É próprio da política (e especialmente do PSD) ter os inimigos no partido e os adversários nos outros partidos.

 O ponta-de-lança desta estratégia é Pedro Pinto e a distrital de Lisboa, que conta com apoios de Carlos Carreiras e Miguel Pinto Luz, que veio a público fazer vastas exigências de vitória ao líder, apesar de ele próprio se ter especializado em perder eleições. Este tipo de guerrilha não é novo nos sociais- -democratas. Aconteceu com Manuela Ferreira Leite (com o mesmo grupo), com Marques Mendes, com Menezes, com Mota Pinto e com Balsemão. Digamos que faz parte do código genético do partido, que opta por se atirar para o abismo e autodestruir em vez de combater o adversário, unindo esforços. Preferem a vitória dos outros à dos seus. Nesse sentido, o PS é profundamente diferente e sabe estabelecer prioridades, juntando-se no que é essencial em favor da manutenção no poder ou da sua conquista. Veja-se, por exemplo, a reserva de António José Seguro desde que Costa ganhou o partido. A dignidade política é isso mesmo.

 Voltando a Rio, é de notar que a própria imprensa está a ser contaminada pelos seus oposicionistas, que fazem passar uma ideia negativa dele, tentando diminuí-lo, por exemplo, no plano cultural, como se fez relativamente a Cavaco Silva a dada altura. A peça publicada sobre Rio no “Expresso” de sábado é paradigmática, apontando virtudes e defeitos, mas enfatizando subliminarmente supostos aspetos negativos, num exercício de ativismo e não de jornalismo.

Rio não vai ter um caminho fácil até porque no ano que vem tem três eleições, duas das quais o envolvem diretamente: as europeias e as legislativas. Já as regionais da Madeira não são propriamente com ele, mas se se confirmar que o PSD pode ali perder a maioria a favor da esquerda, seria um golpe negativo altamente simbólico. Pinto Luz já veio por isso apresentar um caderno de encargos ao líder, numa carta pífia e vagamente chantagista.

 Muito do combate político de Rio terá de passar por interposta pessoa e ocorrer no parlamento, onde ele não tem assento. Daí que a escolha do futuro líder parlamentar seja um aspeto absolutamente essencial. Quando Marcelo era presidente do PSD também não era deputado e a liderança da bancada estava entregue a Marques Mendes. E, na verdade, ambos fizeram a vida negra a António Guterres, sem, no entanto, deixarem de concertar posições com o PS sempre que estavam em causa questões que se sobrepunham ao mero interesse partidário – uma atitude que certas mentalidades tacanhas de hoje não entendem. Por isso, tão ou mais relevante do que os membros da comissão política, tem importância redobrada a questão da liderança do grupo parlamentar. Outros cargos estratégicos na entourage de Rio serão o de secretário-geral e de secretários-gerais adjuntos, pois o PSD precisa urgentemente de criar uma máquina profissionalizada, deixando de ser uma espécie de repartição pública dos anos 70. Um partido sem quadros e sem propostas é meramente um grupo de assalto ao poder.

Num clima de ativa hostilidade, Rio tem o desafio de desenvolver uma estratégia que seja simultaneamente de afirmação, de autoridade política e de capacidade de chamar a si aqueles que, mesmo que não tenham estado com ele, preferirem à desforra interna o combate político e ideológico à geringonça, que continua a surpreender positivamente no campo económico, embora esteja a acumular erros no campo da política ao atacar os pequenos negócios privados como os do turismo, e a deixar degradar elementos essenciais do nosso sistema, como a Segurança Social e o Serviço Nacional de Saúde, que se está a desfazer. São esses campos sociais e da economia real que dizem diretamente respeito às pessoas, que o PSD terá de voltar a ter como referência e prioridade. Caso contrário, de nada servirá à sociedade portuguesa, que tenderá a ignorá-lo. 

Jornalista