O governo isarelita lançou este fim de semana um ultimato a milhares de requerentes de asilo e imigrantes africanos. Numa carta enviada domingo, o executivo ameaça um tempo de prisão “indeterminado” a quem não aceitar ser deportado em breve para um país desconhecido em África. O ultimato surge na sequência de uma grande vaga de deportações no país – à volta de 20 mil pessoas só nos últimos meses, segundo o governo – sobretudo de pessoas de origem sudanesa e eritreia.
Os cidadãos sudaneses fogem acima de tudo de um conflito armado e violento que se arrasta há anos e os eritreios tentam escapar a uma das mais brutais e isoladas ditaduras mundiais. Apesar disto, apenas à volta de 1% dos requerentes de asilo em Israel consegue autorização de residência.
O ultimato, alegadamente enviado apenas a quem não tem processos de asilo em curso, determina que os visados podem escapar à prisão se aceitarem 2800 euros e um bilhete de avião para um país africano identificado apenas como uma nação de “governo estável” que “nos últimos anos se desenvolveu de forma tremenda e absorveu milhares de residentes expatriados, assim como migrantes de vários outros países africanos” – o governo não admite, mas este país é quase certamente o Ruanda.
O projeto de deportação em massa coincide com o encerramento do centro de detenção Holot, no deserto Neguev, onde vivem milhares de imigrantes e requerentes de asilo africanos em limbo, muitos num regime semi-aberto de prisão indefinido – os outros esperam, na sua maioria, o correr de pedidos que se arrastam vários anos na justiça israelita.
O tema da imigração africana mobiliza sobretudo a direita nacionalista israelita, que pertence ao governo de Benjamin Netanyahu. As notícias de janeiro provocaram uma onda de protestos nos centros urbanos, onde vive grande parte da comunidade imigrante, e fizeram renascer a expectativa de que o Supremo Tribunal volte a entrar em terreno em defesa dos imigrantes como em 2014, quando anunciou que as prisões indefinidas são ilegais.