O Bloco de Esquerda e as contas deste rosário


Quando se defende a nacionalização dos CTT ou das redes geridas pela Altice/PT, alguém fez contas de quanto custariam esses impulsos aos contribuintes? É para voltarmos a comparticipar, como aconteceu com boa parte do resgate do sistema bancário?


Portugal iniciou a rota de convergência com o fim de uma legislatura marcada por características singulares no funcionamento da democracia parlamentar portuguesa. Para que se produzam efeitos, com impactos reais na vida das pessoas e nas dinâmicas do país, a tempo de serem englobados no balanço de quatro anos de solução governativa, o Orçamento do Estado para 2019 já será tardio, mesmo que as eleições legislativas sejam no segundo semestre de 2019.

Será tardio para fazer corresponder ao desafio da valorização do interior as soluções concretas, com recursos financeiros alocados, para combater a desertificação, dinamizar as atividades económicas geradoras de emprego, os centralismos e o desinvestimento na proximidade dos prestadores de serviços públicos descentralizados.
Será também tardio para a concretização de questões, como a descentralização de competências e meios do poder central para as autarquias locais ou para a reavaliação do processo de fusão das freguesias, que estiveram presentes no discurso político e na assunção de compromissos políticos desde 2015.

Tardio porque acabamos por somar mais quatro anos aos anos anteriormente perdidos nestas questões, com inequívocos impactos na vida das pessoas desses territórios, no desenvolvimento regional e no pulsar do país. 
Problemático porque as agendas políticas e mediáticas correm o risco de circunscrever o exorcismo da má consciência ou da indiferença em relação a esses territórios, com o foco nas zonas martirizadas pelos incêndios florestais do verão passado.

No balanço que se fizer de uma legislatura marcada pela reposição de rendimentos, por um ambiente económico favorável e pela concretização de uma austeridade light, entre cativações e a perceção pública de que é possível distribuir sem antes arrecadar, que não restem dúvidas de que existirão consequências das opções e das omissões. Existirá responsabilidade política, pelo bife e pelo osso, pelas opções das prioridades políticas seguidas, pelas respostas ao imediato em prejuízo do estrutural, pelas divergências entre o discurso e a ação consequente, mas também pela geometria partidária das agendas partidárias.

Investidos no tradicional justicialismo de quem nunca teve de pôr a mão na massa e pensar no país como um todo, além dos nichos de clientela eleitoral ou do populismo de esquerda radical que não gerou na vida um único posto de trabalho, é normal que o Bloco de Esquerda arremeta contra a EDP, a Altice/MEO ou as PPP da saúde, mas nada diga ou faça em relação ao facto de os helicópteros Kamov do Estado estarem todos parados. Afinal, a participação na solução de poder é bem mais importante que qualquer esboço de coerência e de exigência nos processos passados ou atuais do Estado.

Bem pode o governo andar pelo mundo a procurar captar investimento estrangeiro e soluções de criação de emprego que contribuam para que o atual crescimento económico, sobretudo alavancado pelo turismo, ganhe um perfil estrutural, que com os parceiros de solução governativa a invetivar os investidores estrangeiros como a Altice/MEO ou a Autoeuropa, a bota não bate com a perdigota.

Quando se defende a nacionalização dos CTT ou das redes geridas pela Altice/PT, alguém fez contas de quanto custariam esses impulsos aos contribuintes? É para voltarmos a comparticipar como aconteceu com boa parte do resgate do sistema bancário? Alguém acha mesmo que o cobertor orçamental é suficiente para o que propõem?
É que a narrativa de que a legislatura foi de mudança só terá nexo se houver coerência entre o que se fez no passado e o que se faz agora – isto em relação aos que estão na oposição e aos que são parte integrante da solução governativa, nas suas ações e nas suas omissões. Ou acham que não resulta evidente o contraste das agitações do passado com a soporífera indiferença no presente? Quantas agitações não teriam existido em relação a muitos atos da governação ou situações sociais? Só numa semana, entre o Grupo Ricon e a antiga Triumph, foram para o desemprego 1043 trabalhadores. Razões mais do que suficientes para haver mais exigência, mais coerência e senso nas euforias e nas propostas que se fazem, a toque de um populismo mais tolerado, porque “cosy”. Se é para questionar, que questionem tudo, e não apenas o que dá jeito partidário ou de aconchego do nicho eleitoral.

NOTAS FINAIS

As galinhas do vizinho. A conversa gerada em torno da localização em Oeiras de um poiso da Google é sintomática de não se ter aprendido nada com os espasmos da Agência Europeia do Medicamento e da relocalização da sede do Infarmed. Sem respostas estruturadas sobre a coesão territorial e a valorização do interior, continuaremos a andar nisto. É que nem Portugal é só Lisboa nem o Norte se resume ao Porto. Há muito mais país, a precisar de mais conversa do que apenas a ação em curso nas florestas.

Quem te avisa. O crédito ao consumo continua a disparar, enquanto as empresas continuam a sentir bloqueios no acesso sustentado ao sistema bancário, até para alavancar as oportunidades de crescimento económico existentes. Temos alguma loucura onde devia haver senso – consumo privado – e bloqueio onde deveria haver, com rigor, parcerias de crescimento nas dinâmicas empresariais.

Antes quebrar que vergar. Morreu Edmundo Pedro. Uma referência da luta contra o fascismo e pela democracia de que usufruímos, daquelas que só julgamos possíveis existirem na História e nas histórias dos livros. Como muitos, o reconhecimento geral ficou aquém da dimensão da personalidade e do legado de combate pelos ideais.

Escreve à quinta-feira


O Bloco de Esquerda e as contas deste rosário


Quando se defende a nacionalização dos CTT ou das redes geridas pela Altice/PT, alguém fez contas de quanto custariam esses impulsos aos contribuintes? É para voltarmos a comparticipar, como aconteceu com boa parte do resgate do sistema bancário?


Portugal iniciou a rota de convergência com o fim de uma legislatura marcada por características singulares no funcionamento da democracia parlamentar portuguesa. Para que se produzam efeitos, com impactos reais na vida das pessoas e nas dinâmicas do país, a tempo de serem englobados no balanço de quatro anos de solução governativa, o Orçamento do Estado para 2019 já será tardio, mesmo que as eleições legislativas sejam no segundo semestre de 2019.

Será tardio para fazer corresponder ao desafio da valorização do interior as soluções concretas, com recursos financeiros alocados, para combater a desertificação, dinamizar as atividades económicas geradoras de emprego, os centralismos e o desinvestimento na proximidade dos prestadores de serviços públicos descentralizados.
Será também tardio para a concretização de questões, como a descentralização de competências e meios do poder central para as autarquias locais ou para a reavaliação do processo de fusão das freguesias, que estiveram presentes no discurso político e na assunção de compromissos políticos desde 2015.

Tardio porque acabamos por somar mais quatro anos aos anos anteriormente perdidos nestas questões, com inequívocos impactos na vida das pessoas desses territórios, no desenvolvimento regional e no pulsar do país. 
Problemático porque as agendas políticas e mediáticas correm o risco de circunscrever o exorcismo da má consciência ou da indiferença em relação a esses territórios, com o foco nas zonas martirizadas pelos incêndios florestais do verão passado.

No balanço que se fizer de uma legislatura marcada pela reposição de rendimentos, por um ambiente económico favorável e pela concretização de uma austeridade light, entre cativações e a perceção pública de que é possível distribuir sem antes arrecadar, que não restem dúvidas de que existirão consequências das opções e das omissões. Existirá responsabilidade política, pelo bife e pelo osso, pelas opções das prioridades políticas seguidas, pelas respostas ao imediato em prejuízo do estrutural, pelas divergências entre o discurso e a ação consequente, mas também pela geometria partidária das agendas partidárias.

Investidos no tradicional justicialismo de quem nunca teve de pôr a mão na massa e pensar no país como um todo, além dos nichos de clientela eleitoral ou do populismo de esquerda radical que não gerou na vida um único posto de trabalho, é normal que o Bloco de Esquerda arremeta contra a EDP, a Altice/MEO ou as PPP da saúde, mas nada diga ou faça em relação ao facto de os helicópteros Kamov do Estado estarem todos parados. Afinal, a participação na solução de poder é bem mais importante que qualquer esboço de coerência e de exigência nos processos passados ou atuais do Estado.

Bem pode o governo andar pelo mundo a procurar captar investimento estrangeiro e soluções de criação de emprego que contribuam para que o atual crescimento económico, sobretudo alavancado pelo turismo, ganhe um perfil estrutural, que com os parceiros de solução governativa a invetivar os investidores estrangeiros como a Altice/MEO ou a Autoeuropa, a bota não bate com a perdigota.

Quando se defende a nacionalização dos CTT ou das redes geridas pela Altice/PT, alguém fez contas de quanto custariam esses impulsos aos contribuintes? É para voltarmos a comparticipar como aconteceu com boa parte do resgate do sistema bancário? Alguém acha mesmo que o cobertor orçamental é suficiente para o que propõem?
É que a narrativa de que a legislatura foi de mudança só terá nexo se houver coerência entre o que se fez no passado e o que se faz agora – isto em relação aos que estão na oposição e aos que são parte integrante da solução governativa, nas suas ações e nas suas omissões. Ou acham que não resulta evidente o contraste das agitações do passado com a soporífera indiferença no presente? Quantas agitações não teriam existido em relação a muitos atos da governação ou situações sociais? Só numa semana, entre o Grupo Ricon e a antiga Triumph, foram para o desemprego 1043 trabalhadores. Razões mais do que suficientes para haver mais exigência, mais coerência e senso nas euforias e nas propostas que se fazem, a toque de um populismo mais tolerado, porque “cosy”. Se é para questionar, que questionem tudo, e não apenas o que dá jeito partidário ou de aconchego do nicho eleitoral.

NOTAS FINAIS

As galinhas do vizinho. A conversa gerada em torno da localização em Oeiras de um poiso da Google é sintomática de não se ter aprendido nada com os espasmos da Agência Europeia do Medicamento e da relocalização da sede do Infarmed. Sem respostas estruturadas sobre a coesão territorial e a valorização do interior, continuaremos a andar nisto. É que nem Portugal é só Lisboa nem o Norte se resume ao Porto. Há muito mais país, a precisar de mais conversa do que apenas a ação em curso nas florestas.

Quem te avisa. O crédito ao consumo continua a disparar, enquanto as empresas continuam a sentir bloqueios no acesso sustentado ao sistema bancário, até para alavancar as oportunidades de crescimento económico existentes. Temos alguma loucura onde devia haver senso – consumo privado – e bloqueio onde deveria haver, com rigor, parcerias de crescimento nas dinâmicas empresariais.

Antes quebrar que vergar. Morreu Edmundo Pedro. Uma referência da luta contra o fascismo e pela democracia de que usufruímos, daquelas que só julgamos possíveis existirem na História e nas histórias dos livros. Como muitos, o reconhecimento geral ficou aquém da dimensão da personalidade e do legado de combate pelos ideais.

Escreve à quinta-feira